“Nada melhor para aproveitar a oportunidade da Rio +20 do que demonstrar que o Tratado de Cooperação Amazônica está
mais vivo do que nunca na sintonia com as preocupações de toda a
comunidade internacional”, propõe Rubens Ricupero, ex-secretário-geral
da Unctad, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 02-04-2012.
Segundo ele, “uma decisão dos países
amazônicos de estabelecer mecanismo para fomentar e sistematizar as
pesquisas, o conhecimento e as propostas sobre a Amazônia será a prova
mais irrefutável da determinação das nações amazônicas de proteger a
Amazônia contra a destruição”.
Eis o artigo.
Quando o presidente Sarney tomou a surpreendente decisão de oferecer o Brasil como sede da Rio 92, sua motivação tinha tudo a ver com a Amazônia. O fim dos anos 1980 coincidiu com o agravamento da destruição da floresta e da campanha internacional de denúncias.
A reunião se realizou sob o governo Collor, ocasião em que se conseguiu fazer da Rio 92 a “finest hour”, o momento mais alto da diplomacia ambiental brasileira.
Atuamos como país em desenvolvimento,
sem esquecer a perspectiva dos interesses da humanidade, ameaçada por
fenômeno global que afeta o planeta e a atmosfera acima das fronteiras.
Se o governo brasileiro sob Sarney ou Collor não
fugiu do problema amazônico, impõe-se agora seguir linha semelhante,
enfrentando de forma proativa a ameaça que a mudança climática faz pesar
sobre a região.
O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) estimou
que os aumentos da temperatura e as reduções na água provocarão a
substituição da floresta tropical úmida por savana mais pobre que a do
cerrado, de início na Amazônia oriental, onde mais intensa tem sido a
deflorestação.
No pior cenário, a elevação da
temperatura pode chegar até a enormidade de 8ºC! Além da destruição da
floresta, do aumento de frequência das secas e dos incêndios, uma
elevação desse tipo nos arrastaria a terreno desconhecido, fora da
experiência histórica da humanidade.
Um dos efeitos seria o impacto sobre o regime de chuvas desde Mato Grosso até Buenos Aires. São elas que contribuem para fazer da área uma das mais produtivas concentrações de produção agropecuária do planeta.
A deterioração do balanço hídrico teria o
potencial de aniquilar a principal vantagem comparativa do Brasil, da
Argentina e de outros sul-americanos no comércio mundial. Reduziria a
capacidade de produção de alimentos no momento em que a expansão da
população torna cada vez mais crítica a oferta de calorias e proteínas.
A fim de enfrentar o perigo, falta-nos, no âmbito do Tratado Amazônico,
um acordo para criar uma espécie de IPCC regional, a fim de analisar o
conhecimento científico e chegar a um consenso sobre ações para combater
a mudança do clima na região.
Como na Amazônia o
maior problema é a falta e inadequação do conhecimento científico,
impõe-se também instituir uma rede de coleta de dados e pesquisa em
todos os países da bacia.
Precisamos nos antecipar ao que
certamente ocorrerá se nada fizermos: as cobranças, as críticas, os
juízos condenatórios do resto do planeta.
Nada melhor para aproveitar a oportunidade da Rio +20 do que demonstrar que o Tratado de Cooperação Amazônicaestá mais vivo do que nunca na sintonia com as preocupações de toda a comunidade internacional.
Uma decisão dos países amazônicos de
estabelecer mecanismo para fomentar e sistematizar as pesquisas, o
conhecimento e as propostas sobre a Amazônia será a prova mais
irrefutável da determinação das nações amazônicas de proteger a Amazônia
contra a destruição.
Até amanhã, amig@s!
Fonte: IHU – Instituto Humanitas Unisonos
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