A reportagem é do sítio Greenpeace,
17-04-2012. Na foto, o primeiro barramento começa a ser erguido no Rio
Xingu. Árvores caídas denotam a destruição da floresta amazônica
provocada por Belo Monte..
Governo planeja construir 63 usinas hidrelétricas em diversas bacias
hidrográficas da Amazônia. Altamira vive as consequências geradas pelo
aumento populacional: faltam escolas, hospitais e saneamento básico para
a população.
O Greenpeace sobrevoou a
Usina Hidrelétrica de Belo Monte no dia 10 de abril e essa atividade
fez parte das programações que envolvem o navio Rainbow Warrior, que na perna amazônica tem dado ênfase à campanha da Lei do Desmatamento Zero.
Até o momento, mais de 93 mil pessoas assinaram a petição online que
objetiva coletar no mínimo 1,4 milhão de assinaturas para esse projeto
de lei de iniciativa popular.
O fato de o governo federal projetar a construção de 63 hidrelétricas nos rios Madeira, Teles Pires, Tapajós, Negro, Xingu, Trombetas e
seus afluentes tem gerado perplexidade e deixado a Amazônia em estado
de alerta máximo. E a se valer pelo que vem acontecendo na construção
desta usina paraense, a preocupação tem razão de ser.
As consequências desta obra começam a
ser sentidas em Altamira, uma das cidades mais afetadas pelo caos que se
instalou devido à falta de infraestrutura. Crianças estão estudando
dentro de contêineres, o sistema de saúde é deficiente, o tratamento de
água é algo raro por lá e doenças como diarreias e verminoses se
alastram. O preço da cesta básica disparou. No entanto, o Consórcio
Norte Energia se comprometeu a fazer investimentos para que esses
impactos fossem minimizados, mas até agora tudo não passou de promessa.
Um dos argumentos favoráveis à Belo
Monte que mais se ouve em Altamira é de que as barragens levarão
desenvolvimento para a região. Mas Dom Erwin Kräutler, bispo do Xingu e presidente do Cimi (Conselho
Indigenista Missionário) tem outra concepção a respeito: “Ao meu ver,
desenvolvimento é quando o ser humano é colocado no centro da questão. E
não é o que tem acontecido aqui. Não há leitos novos no hospital, os
barrageiros ganham no máximo R$ 1 mil, vivemos na capital da dengue e da
malária. Desenvolvimento ocorre quando se melhora a qualidade de vida
da população”.
Há a previsão de que Belo Monte venha
desalojar entre 30 mil e 40 mil pessoas. Os futuros afetados são
moradores dos municípios do entorno, ribeirinhos, extrativistas,
indígenas e quilombolas. Isto acontecerá porque a obra pode alagar uma
área de 516 km2. Em contrapartida, devido a forte migração, a população
atual, que está em torno de 109 mil pessoas, pode chegar a 200 mil
habitantes já em 2013.
“No caso desta hidrelétrica, os estudos
de impactos sociais e ambientais apresentados até o momento estão
claramente subdimensionados. As condicionantes são desrespeitadas e não
cumpridas. Os povos afetados reclamam que estão sendo ignorados. O
desrespeito é generalizado, mas mesmo assim o ritmo de construção da
usina está cada dia mais acelerado. Para eles, o meio ambiente e as
pessoas são o que menos importam”, pontuaMarcio Astrini, da Campanha da Amazônia do Greenpeace.
Desmatamento
Outra abordagem que pode ser observada é
que as construções dessas usinas também poderão contribuir para o
aumento do desmatamento na região. O Greenpeace fez uma análise dos
dados de desmatamento divulgados pelo Prodes do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) relativos a Belo Monte.
Segundo o Laboratório de Geoprocessamento do Greenpeace, como a área de influência indireta foi definida de forma conservadora no EIA-Rima (Estudo
de Impacto Ambiental- Relatório de Impacto ao Meio Ambiente), ao se
observar os dados de satélite dos últimos três anos, houve aumento
significativo do desmatamento fora dessa região pré-estabelecida. Ou
seja, ao se estender um raio de 50 km, constatou-se que o desmate foi
cinco vezes maior.
Não é nenhuma novidade afirmar que obras
de infraestrutura são grandes catalisadores de novas clareiras. De
acordo com Astrini, “o governo federal e os responsáveis pela obra sabem
disso, mas não há nada que esteja sendo feito para barrar esta
tendência. E desta forma, o que vai acontecer é o de sempre: enquanto os
responsáveis pela hidrelétrica dão suas desculpas, a floresta paga com a
vida.
Energias renováveis e eficiência energética
Diante deste cenário, vale destacar que o
Brasil dispõe de um enorme potencial em outras fontes renováveis, como
eólica, solar, biomassa e mesmo energia oceânica. A eólica poderia
atender ao triplo da demanda atual por eletricidade e já apresenta o
segundo custo mais baixo de geração entre todas as fontes, com preços
relativamente próximos às hidrelétricas. A energia solar é a que mais
cresce no mundo e os preços vêm caindo consistentemente.
O potencial de eólicas atualizado é de
300 mil MW (megawatts), suficiente para atender ao triplo da demanda
elétrica atual do país. Já a solar poderia abastecer a cerca de 10 vezes
a necessidade energética nacional. Apenas a cogeração a bagaço de cana
poderia gerar uma quantidade de energia superior a duas usinas de
Itaipu, que produz 14 mil MW.
Por outro lado, as projeções de demanda
do insumo do governo federal são superestimadas, mesmo considerando os
índices de crescimento da economia, e é nisso que o governo Dilma
Rousseff se apoia ao defender a exploração do potencial hidrelétrico dos
rios amazônicos. “Há uma folga de demanda contratada e se investíssemos
em medidas mais agressivas de eficiência energética poderíamos abrir
mão de uma série de usinas impactantes para o meio ambiente e para a
sociedade”, avalia Ricardo Baitelo, da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace.
Ainda há a parte dos custos de Belo
Monte, que chegam a impressionantes 30 bilhões, sem incluir
externalidades de impactos socioambientais. Especula-se que 80% desse
montante virá de financiamentos do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social). “O mesmo investimento para
construir essa usina geraria praticamente a mesma energia em parques
eólicos e até dez vezes mais de economia se fossem adotadas medidas de
eficiência energética”, observa Baitelo.
Outro aspecto positivo das energias
renováveis é que as indústrias eólica e solar geram mais empregos que a
hidrelétrica para instalar a mesma potência. Essas cadeias empregam mais
pessoas de forma permanente, em atividades de instalação, manutenção e
vendas.
Até amanhã, amig@s!
Fonte: IHU
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