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sábado, 27 de outubro de 2012

Kaiowá e Guarani de Pyelito Kue é violentada por oito homens


De acordo com a indígena, pistoleiros a amordaçaram antes do estupro. Enquanto se revezavam, um mantinha a ponta de uma faca em seu pescoço.

Enquanto M.B.R se dirigia do tekoha Pyelito Kue para o centro urbano de Iguatemi, Mato Grosso do Sul, na última quarta, 24, o motoqueiro que a levava mudou de rota, entrou numa fazenda chamada São Luís e lá oito pistoleiros aguardavam a indígena, que passou a ser violentada sexualmente.
A ocorrência foi registrada na delegacia do município e conforme um agente da Polícia Civil, a indígena realizou exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML) de Naviraí. A investigação para descobrir os autores também teve início e os policiais aguardam o laudo da perícia médica.    
De acordo com relatos da própria indígena, os pistoleiros a amordaçaram antes do início das sessões de estupro. Enquanto se revezavam, um sempre mantinha a ponta de uma faca no pescoço de M.B.R. Logo após as sucessivas violências, um dos homens apontou a espingarda que trazia para a cabeça da indígena e passou a dirigir perguntas sobre Pyelito Kue e suas lideranças.
“Ela contou que depois disso os homens deixaram ela largada por lá. Outro homem a viu e prestou socorro. Foi toda machucada para o Hospital São Judas Tadeu e recebeu medicação, atendimento”, relata Líder Lopes, de Pyelito Kue. M.B.R já está na comunidade e aguarda nova ida ao hospital.
Conforme Líder Lopes, a indígena encontra-se assustada e pouco consegue falar. A Fundação Nacional do Índio (Funai) foi acionada e aguarda o laudo pericial para tomar providências, mas uma equipe se deslocará até a comunidade para prestar apoio a indígena.

Suspeitas   
Ainda não há informações mais concretas quanto aos autores da barbárie. Porém, M.B.R disse ao parentes Kaiowá e Guarani que o homem da moto foi enviado pelo marido de uma tia, sendo que ambos vivem em Iguatemi.
Durante esta última semana, a questão Kaiowá e Guarani voltou às manchetes nacionais e internacionais, além de mobilizar centenas de pessoas mundo afora, com uma carta da comunidade de Pyelito Kue dizendo que não sairão de suas terras de ocupação tradicional, mesmo que para isso tenham que morrer resistindo.   

Até amanhã, amig@s
!
Fonte: Brasil De Fato

domingo, 21 de outubro de 2012

O GRITO GUARANI KAIOWA


O GRITO GUARANI KAIOWA - Frente a ordens de despejo de terras sagradas, indígenas decidem por morte coletiva, e pedem para serem enterrados no local.

"Nos matem e enterrem coletivamente"

"Sabemos que seremos expulsos daqui da margem do rio pela Justiça, porém não vamos sair da margem do rio. Como um povo nativo e indígena histórico, decidimos meramente em ser morto coletivamente aqui. Não temos outra opção, esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da Justiç
a Federal de Navirai- MS." Esse é o comunicado da comunidade indígena para o Governo e Justiça Federal."


"Comemos comida uma vez por dia. Passamos isso dia-a-dia para recuperar o nosso território antigo Pyleito Kue/Mbarakay. De fato, sabemos muito bem que no centro desse nosso território antigo estão enterrados vários dos nossos avôs e avós, bisavôs e bisavós, ali estão os cemitérios de todos nossos antepassados. Cientes desse fato histórico, já vamos e queremos ser mortos e enterrados junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos o decreto da nossa morte coletiva e para nos enterrar aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação/extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais.

"Já aguardamos esta decisão. Assim, se é para decretar a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay pedimos que nos enterrem todos aqui. Visto que decidimos integralmente a não sairmos desse local com vida e nem mortos. Sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo, já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo de modo acelerado." (Carta da comunidade).


Carta da comunidade Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay-Iguatemi-MS para o Governo e Justiça do Brasil: http://blogapib.blogspot.com.br/2012/10/carta-da-comunidade-guarani-kaiowa-de.html


Carta de Comunidade de Passo Piraju-Dourados-MS frente à ordem de despejo da Justiça Federal da TRF 3 São Paulo: http://racismoambiental.net.br/2012/10/carta-de-comunidade-de-passo-piraju-dourados-ms-frente-a-ordem-de-despejo-da-justica-federal-da-trf-3-sao-paulo/


CAMPANHA SOLIDÁRIA AO POVO GUARANI E KAIOWA: http://solidariedadeguaranikaiowa.wordpress.com/campanha-solidaria/




Filme sobre o assassinato do lider Kaiowá Nísio Gomes e a luta dos povos Kaiowa e Guarani no Mato Grosso do Sul para a demarcação de seus territórios tradicionais. De Felipe Milanez E Paulo Padilha- A Luta Guarani: http://youtu.be/OoyaR5KZGvM


Vídeo: Salve Dilma, aqueles que vão morrer te saúdam: http://vimeo.com/41571615


DIVULGUE, FAÇA SOAR A VOZ GUARANI KAIOWA

Até amanhã, amig@s!

sábado, 20 de outubro de 2012

PNUD revela abordagem para combater perda de biodiversidade

O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) revelou quinta-feira (18), na 11ª Conferência das Partes sobre Biodiversidade (COP 11), um novo plano para lidar com os níveis sem precedentes de perda da biodiversidade global.

A nova abordagem prevê o aumento de investimentos para conservação da biodiversidade em 100 países até 2020. A estratégia do PNUD é trabalhar com governos para salvar a biodiversidade e administrar sustentavelmente os ecossistemas em 1,4 bilhão de hectares de terra e água, o equivalente às áreas da Austrália, Índia e Argentina somadas.
“A sobrevivência humana depende fortemente da biodiversidade e ecossistemas saudáveis, e ainda assim, nas últimas décadas, o mundo está vivenciando uma perda de biodiversidade sem precedentes e degradação dos ecossistemas, minando os alicerces da vida na Terra”, afirmou Rebeca Grynspan, sub-secretária-geral da ONU e administradora associada do PNUD.
“Como 1,2 bilhão de pessoas que vivem em severa pobreza dependem diretamente da natureza para suas necessidades básicas e meios de subsistência, isso precisa de atenção internacional urgente”, acrescentou Grynspan.
O PNUD pretende encontrar, em parceria com os governos, novas formas de financiar o manejo sustentável da biodiversidade através de receitas nacionais, mecanismos financeiros inovadores e financiamento de doadores de várias fontes.
Um dos exemplos é o Global Environment Facility (GEF), que serve como o mecanismo financeiro da Convenção de Diversidade Biológica (CBD) e tem sido um dos principais agentes de conservação nas últimas duas décadas.
Os projetos desenvolvidos através dessa nova estratégia deverão promover o crescimento econômico, criar empregos, proteger espécies e habitats ameaçados e ajudar a criar comunidades resilientes que mantenham áreas naturais para suporte agrícola e como um ‘amortecedor’ contra desastres como secas e enchentes.
Financiamento controverso
Mas arranjar essas novas formas de financiamento pode ser mais difícil do que se imagina, já que países desenvolvidos e em desenvolvimento estão divergindo sobre a captação e aplicação de fundos para proteger a biodiversidade mundial.
Segundo Achim Steiner, diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), as nações em desenvolvimento estão ajudando mais a preservar a biodiversidade do que os países desenvolvidos.
“A contribuição das nações em desenvolvimento para conservar a biodiversidade é significativa. As nações desenvolvidas não podem argumentar que estão colocando mais dinheiro na mesa”, comentou ele.
De acordo com Steiner, os países desenvolvidos ainda tem que fornecer o dinheiro prometido às nações em desenvolvimento para combater as mudanças climáticas. Além disso, o diretor executivo criticou o pouco investimento que os países ricos fazem para conservar a biodiversidade.
“Nas negociações internacionais o dinheiro comprometido pelos países desenvolvidos é apenas caridade. Eles deveriam se tornar coinvestidores na conservação da biodiversidade, já que são também cobenfeitores”, declarou.
Steiner ainda censurou os investimentos para frear a crise econômica e alertou que eles podem prejudicar os fundos destinados ao setor verde.
“O dinheiro gasto em estabilizar a economia deveria ser investido em tecnologias do futuro e não do passado. Muitos países têm mostrado progresso no setor verde. No último ano, a Índia teve o crescimento mais rápido no mercado mundial de energias limpas e a China é um das principais polos de energia solar e eólica, então os países podem tomar medidas para investir no setor verde”, disse ele.
Mesmo assim, o diretor executivo elogiou o aumento dos investimentos pelos países emergentes, e louvou a recente iniciativa da Índia de prometer no evento US$ 50 milhões para a conservação da biodiversidade.
“A maioria das áreas florestais protegidas está em nações em desenvolvimento e os fundos orçamentais para biodiversidade, ecossistemas, proteção da vida selvagem e cumprimento da lei aumentaram nos últimos anos. A conservação da biodiversidade se tornou uma parte importante da economia nacional”, observou.
Mas apesar do discurso de Steiner, os países desenvolvidos continuam a relutar em comprometer fundos na COP 11. Eles argumentam que linhas de base firmes devem ser desenvolvidas primeiro, indicando quantos fundos já foram criados e quantos ainda são necessários. No entanto, os países mais pobres rebatem que essa justificativa está sendo usada para adiar os compromissos já assumidos.
América Latina
Nesta quinta-feira, o Banco Mundial lançou umrelatório durante a CDB mostrando novas abordagens para o financiamento da preservação dos ecossistemas. O documento apresenta experiências da América Latina e Caribe, onde diversas fontes de recursos (públicos, privados e não governamentais) estão sendo combinados.
Uma dessas histórias de sucesso, segundo o banco, é o caso do estabelecimento do Fundo da Mata Atlântica no Rio de Janeiro, financiado parcialmente com recursos da compensação ambiental de empreendimentos com significativo impacto. O fundo estaria possibilitando projetos em cerca de 20 áreas protegidas.
Nova estratégia pretende trabalhar com governos para encontrar formas de financiar o manejo sustentável da biodiversidade, mas países ricos e pobres ainda divergem sobre aplicação de investimentos na conservação ambiental
Outro exemplo citado é o do estado do Acre, que de acordo com o relatório, reduziu as taxas de desmatamento em 70%, mesmo com crescimento de 40% do PIB, através de medidas como monitoramento de licenças das madeireiras, fiscalização, regularização fundiária, entre outros.

Até amanhã, amig@s!
 
Fonte: Instituto Carbono Brasil

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Ouro O Verdadeiro Interesse Por Trás de Belo Monte

Overview

The 100% owned Volta Grande Project is located approximately 60 kilometres southwest of the town of Altamira (pop. 100,000) in the northern region of Para State. The geological setting (Tres Palmeiras greenstone belt) at the project areas is part of the same sequences present in the Carajas "Word Class" mineral province. The Company currently controls the mining and exploration rights over an area covering 130,541 hectares(1,305 sq. km) of the area known for artisanal gold mining. Read more

Exploration Activities

In order to prepare the Volta Grande Project for a Definitive Feasibility Study which will commence in Q3 of 2013, Belo Sun launched a large diamond drill program in mid 2010 with the aim of upgrading and expanding the projects resources. Since drilling commenced in 2010, Belo Sun has increased the Measured & Indicated Resources to 2,852,000 oz/Au with an average grade of 1.69 g/t Au. Likewise, Inferred Resources were increased to 2,322,000 oz/Au with an average grade of 1.81 g/t Au. Additionally, drill results continue to confirm the potential for further increasing the resources at Volta Grande. Read more

NI 43-101 Resources

The table below present the estimate details:
Volta Grande Project Resources Measured Indicated Measured &
Indicated
Inferred
Ouro Verde Pit Constrained Tonnes  16,473,000 10,118,000 26,591,000 17,188,000
  Ounces @ 0.5 g/t cut-off  958,000 551,000 1,510,000 930,000
  Grade (g/t Au)  1.81 1.69 1.77 1.68
Ouro Verde Underground Tonnes  

243,000
  Ounces @ 2.0 g/t cut-off  

21,000
  Grade (g/t Au)  

2.75
Grota Seca Pit Constrained Tonnes 17,794,000 7,968,000 25,762,000 18,107,000
  Ounces 927,000 405,000  1,333,000 963,000
  Average Grade (g/t Au)  1.62 1.58  1.61 1.66
Grota Seca Underground Tonnes 14,000 84,000 98,000 421,000
  Ounces @ 2.0 g/t cut-off 1,000 9,000 10,000 51,000
  Grade (g/t Au) 2.34 3.33 3.18 3.77
Total Volta Grande Tonnes 34,281,000 18,170,000 52,451,000 39,990,000
  Ounces 1,887,000 966,000 2,852,000 2,322,000
  Grade (g/t Au) 1.71 1.65 1.69 1.81
Notes:
Mineral resources are not mineral reserves and do not have a demonstrated economic viability. All figures have been rounded to reflect accuracy of the estimates. The statement is reported at a cut-off grade of 0.5 gpt gold for open pit mineral resources, and 2.0 gpt gold for underground (outside of pit) mineral resources. The cut-off grades are based on a gold price of US$1,300 per troy ounce and metallurgical recoveries of 90 percent for saprolite and 95 percent for unweathered material.


Volta Grande Infrastructure

The Volta Grande Project is endowed with excellent access to established infrastructure. The project is located 60 kilometers from the city of Altamira which has a population of approximately 95,000 and an airport with regularly scheduled commercial flights. The project can be accessed from Altamira either by river or by road - both options are suitable for the transport of necessary equipment. The city of Altamira is also equipped with a 230 kilowatt transmission line from which the project will draw its power for the first years of production. Volta Grande itself is situated alongside the Xingu river's "Big Bend" (or the "Volta Grande") upon which the Brazilian government has begun construction the world's third largest hydro-damming facility - the Belo Monte Hydro Dam. (click "read more" to see map outlining locations below) Read more

Property History

Exploration for gold deposits in the Volta Grande area of the eastern Amazon region of Brazil dates back to the Portuguese Conquests of the 16th century and has since continued sporadically to the present. Initial discovery of gold at the Volta Grande (Big Bend) site is believed to have been made in the early 1900s.

Mining by Garimpeiros (Artisanal Miners)

Many parts of the Volta Grande Property have been mined in the past by garimpeiros (artisanal miners). From the 1960s to late 1990s, the average grade of material extracted from numerous small alluvial gold deposits of the area is reported to be up to 3 oz/ton gold (anecdotal reports from local garimpeiros). These included the Ouro Verde, Gaúcho, Canela, Serrinha, Grota Sêca, Galo, Japão, Nobelino, and other workings by garimpeiros near the village of Itatá. Some of these garimpeiro workings are still active. Read More

Property Geology

Regional Geology

The Volta Grande Project area is situated along the northern boundary of the Carajas-Iricoumé Block of the Eastern Amazonian Craton. In this part of the Amazonian Craton, the regional structures have a northwesterly trend. In the area west of Belém, the southern segment of the Amazonian Craton is underlain by east-northeasttrending Phanerozoic cover rocks of the Amazon Basin. Read more

Local Geology

The Volta Grande property is situated along a major ductile deformation zone within the west-northwest trending Três Palmeiras greenstone belt. It is underlain by west northwest trending and steeply south dipping gneisses of metasedimentary and/or metavolcanic origin and syntectonic diorite. Read more.

Até amanhã, amig@s!

Fonte:Belo Sun Mining Corp. Projetos



terça-feira, 16 de outubro de 2012

Cientista inglês prevê degelo total do Ártico em 4 anos

O derretimento do gelo no Ártico está acelerando a tal ponto que pode desaparecer totalmente em quatro anos. Este é o alerta feito pelo pesquisador Peter Wadhams, da Universidade de Cambridge, Inglaterra, e um dos maiores especialistas no assunto.
O alerta feito pelo cientista foi publicado na última segunda-feira (17) no jornal britânico The Guardian. Wadhams é diretor do departamento de física de uma das universidades mais conceituadas do mundo e passou anos coletando dados sobre a espessura do gelo do oceano Ártico através de submarinos.
Atualmente a superfície congelada no ártico é de 4,1 milhões de quilômetros quadrados, área muito menor do que em 1979, quando foram realizadas as primeiras imagens de satélites, e em 2000, quando a abrangência do gelo era de 6,5 milhões de quilômetros quadrados.
O problema não acontece somente na superfície. “As medições feitas por submarinos mostraram que o gelo perdeu 40% de sua espessura desde a década de 80”, declarou o cientista.
O aquecimento global é apontado como a principal causa para esta perda. Assim, Wadhams explica que as medidas para conter o aumento nas temperaturas devem ser aplicadas com urgência. “Não podemos mais fingir que estamos fazendo algo contra a mudança climática. Não é apenas uma necessidade urgente de diminuir as emissões de CO2, mas também é necessário considerar formas de desacelerar o aquecimento global, através do desenvolvimento de vários métodos de geoengenharia, por exemplo.”
Se o gelo derretido não tem efeito significativo sobre o nível do mar, ele causa muitos efeitos adversos sobre o ambiente. Esta é uma das origens para as mudanças nas correntes oceânicas atmosféricas, e do aumento da liberação de pesticidas e outros poluentes orgânicos na atmosfera, o que aumenta a emissão de gases de efeito estufa. Com informações do Le Monde.

Até amanhã, amig@s !

Fonte: CicloVivo

domingo, 14 de outubro de 2012

Política Nacional de Resíduos Sólidos: a responsabilidade é coletiva

A instituição da Política Nacional dos Resíduos Sólidos – PNRS “mobilizou tanto o setor público como o setor privado e a sociedade civil, o que por sua vez tem gerado inúmeros debates que cumprem papel de formação”, avalia Elisabeth Grimberg, ao analisar os primeiros resultados da PNRS. Entre as propostas da PNRS está a de responsabilizar o fabricante, importadores, distribuidores e comerciantes pelas embalagens produzidas.
Os benefícios dessa medida serão percebidos a médio e longo prazo, quando as empresas revisarem e repensarem o “padrão de produção, pois excesso de embalagens terão custos no pós-consumo e isto deverá ser um estímulo para a reprogramação de produtos e embalagens”, assinala.
Um dos desafios da PNRS é a adesão dos municípios à coleta seletiva dos resíduos úmidos domiciliares, atribuição da prefeitura e a implantação da logística reversa, ou seja, coleta seletiva dos resíduos secos domiciliares. Mas na avaliação da coordenadora da área de Resíduos Sólidos do Instituto Pólis, será possível terminar com os lixões até 2014 se os gestores municipais contribuírem para este processo. “É possível desde que os municípios sejam pró-ativos no sentido de se habilitar a acessar recursos públicos federais, por exemplo, disponíveis para a implementação de sistemas de recuperação de resíduos sólidos”, assegura.
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail para a IHU On-Line, Elisabeth também comenta a PNRS e os desafios acerca da implantação completa da logística reversa. “Houve assinatura de termos de compromisso entre a Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo e quatro setores da indústria – fabricantes de óleos lubrificantes, de embalagens de agrotóxicos, de pilhas e baterias portáteis (estes já têm ações há mais de 10 anos) e de produtos de higiene pessoal, perfumaria, cosméticos, de materiais de limpeza e afins (estes não tinham nenhuma iniciativa antes) para estabelecimento de logística reversa. Porém, o desafio é muito maior, porque está em questão o setor empresarial viabilizar a coleta seletiva, triagem e garantia de escoamento de 30% de todo o resíduo seco gerado em 5.565 municípios brasileiros”, esclarece.
Elisabeth Grimberg é coordenadora executiva do Instituto Pólis para a área de resíduos sólidos. Também compõe a coordenação do Fórum Lixo e Cidadania da Cidade da Cidade de São Paulo. É mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS.
Confira a entrevista.
IHU On-Line – Quais os efeitos práticos da Política Nacional de Resíduos Sólidos – PNRS até o momento?
Elisabeth Grimberg – A instituição da PNRS e o processo público e participativo de construção do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (2011) mobilizaram tanto o setor público como o setor privado e a sociedade civil, o que por sua vez tem gerado inúmeros debates que cumprem papel de formação. Os debates também repercutem positivamente porque pressionam especialmente prefeituras e setor empresarial a implementarem ações de sua responsabilidade, previstas na Lei número 12.305.
IHU On-Line – Será possível terminar com os lixões até 2014, conforme o previsto pela Política Nacional de Resíduos Sólidos?
Elisabeth Grimberg – É possível desde que os municípios sejam pró-ativos no sentido de se habilitarem a acessar recursos públicos federais, por exemplo, disponíveis para a implementação de sistemas de recuperação de resíduos sólidos. A responsabilidade das prefeituras é de implantar a coleta seletiva dos resíduos úmidos (60% do total gerado nos domicílios) e destiná-los preferencialmente para compostagem. E a responsabilidade pela coleta seletiva dos resíduos secos (40% do total) é dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes, segundo a PNRS (Art.33, § 1º). O rejeito, sendo composto de resíduos secos, também é atribuição do setor empresarial.
IHU On-Line – Apesar de a lei diferenciar o que é lixo que não pode ser aproveitado e o que é passível de reaproveitamento, a informação é de que na cidade de São Paulo, por exemplo, apenas 1,17% do lixo é reciclado. Quais as razões do baixo índice de reciclagem?
Elisabeth Grimberg – A Prefeitura de São Paulo não apostou e não investiu no modelo criado no início de 2001, quando a então prefeita Marta Suplicy iniciou processo participativo de construção de um modelo socioambiental sustentável. Foram construídas 15 unidades de triagem operadas por cooperativas de catadores durante sua gestão. De lá para cá, passados quase oito anos, foram implantadas apenas cinco unidades, o que revela a falta de vontade política de implementar um novo padrão de gestão e destinação de resíduos em São Paulo.
IHU On-Line – Esse percentual é estendido às demais capitais ou cidades do Brasil?
Elisabeth Grimberg – A média de desvio de resíduos de aterro sanitário por ações de recuperação, seja realizadas por catadores seja por intermediários (sucateiros), é estimada entre 10 a 15%. Encontram-se, porém, cidades que chegam a recuperar até 23% dos seus resíduos em programas oficiais de coleta seletiva, que é o caso de Londrina-PR.
IHU On-Line – O que dificulta a adesão de muitos municípios brasileiros à coleta seletiva?
Elisabeth Grimberg – Antes da PNRS pode-se atribuir essas dificuldades à cultura política que rege a gestão de resíduos, ou seja, tratar resíduos reaproveitáveis como lixo e jogá-lo, portanto, nas costas da cidade, em lixões – uma forma de não ter despesas com tratamento adequado. Em parte também porque, para implantar coleta seletiva, é preciso investimentos/orçamento para tal, e uma maior capacidade técnica e gerencial para implementar um sistema que funcione a contento – programa de educação da população para separar adequadamente, sistema de controle e punição para os que não aderirem, unidades de triagem e investimentos na estruturação de cooperativas de catadores para viabilizar sua integração de forma digna e sustentável. Isso tudo requer também planejamento estratégico, algo que não é muito frequente ocorrer nos municípios brasileiros. Contudo, a partir de 2010, esta atribuição passou a ser dos geradores, do setor produtivo – fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes – que deverá investir na estruturação e operação de toda a cadeia da recuperação dos resíduos secos.
IHU On-Line – Como os estados e municípios têm se organizado no sentido de elaborar planos de ação para garantir o destino correto do lixo? Já é possível perceber algum movimento nesse sentido?
Elisabeth Grimberg – Sabe-se que têm municípios elaborando seus Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos – PMGIRS, mas quantos são e em que estágios estão, não se sabe.
IHU On-Line – Quantos mil catadores estão integrados ao sistema de recuperação dos resíduos?
Elisabeth Grimberg – Segundo pesquisa do IPEA, hoje são em torno de 40.000 a 60.000 catadores, organizados em 1.100 cooperativas ou associações no país.
IHU On-Line – A logística reversa já está sendo aplicada?
Elisabeth Grimberg – A logística reversa está sendo aplicada parcialmente para coleta de alguns produtos pós-consumo, mas não de forma a abranger a totalidade dos resíduos gerados, tais como pneus, pilhas, baterias, que já eram alvo de resoluções Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. Outros resíduos que foram introduzidos como de responsabilidade dos fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes ainda não foram devidamente contemplados, tais como eletroeletrônicos, lâmpadas fluorescentes, mas principalmente os resíduos secos domiciliares – papel/papelão, vidro, metal e plástico não estão sendo contemplados por sistema de logística reserva.
IHU On-Line – Como estão os acordos nesse sentido entre o poder público e o setor privado?
Elisabeth Grimberg – Houve assinatura de termos de compromisso entre a Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo e quatro setores da indústria – fabricantes de óleos lubrificantes, de embalagens de agrotóxicos, de pilhas e baterias portáteis (estes já têm ações há mais de 10 anos) e de produtos de higiene pessoal, perfumaria, cosméticos, de materiais de limpeza e afins (estes não tinham nenhuma iniciativa antes) para estabelecimento de logística reversa. Mas o desafio é muito maior, porque está em questão o setor empresarial viabilizar a coleta seletiva, triagem e garantia de escoamento de 30% de todo o resíduo seco gerado em 5.565 municípios brasileiros. A responsabilização do setor empresarial, considerado na lei como poluidor-pagador, pode se dar por meio do custeio desta atividade contratando, por exemplo, diretamente cooperativas de catadores para operarem as etapas de coleta, triagem e pré-beneficiamento dos materiais recicláveis. Podem também repassar os recursos para que as prefeituras coordenem estes serviços e, nesse sentido, também a proposta é que contratem as cooperativas para os executarem.
Certamente, o setor produtivo, especialmente as grandes multinacionais, que têm acúmulos com a operação de logística reversa nos países europeus, saberá como adaptar estas experiências à realidade brasileira. Além disso, temos no país uma extensa rede de atores que têm vivências significativas e que poderá ser chamada para pensar e desenhar junto como implantar este sistema e orientar os municípios nas diversas alternativas para melhor implementar a PNRS: Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis – MNCR, 994 prefeituras que têm programas de coleta seletiva, inúmeras ONGs que têm colaborado na implantação de programas de coleta seletiva com integração de catadores. Também instituições de pesquisa, como IPEA, já produziram uma série de análises que podem subsidiar tanto o setor empresarial como o setor público na estruturação de soluções ambientais, sociais e econômicas sustentáveis.
IHU On-Line – Quais as implicações do processo de incineração dos resíduos?
Elisabeth Grimberg – A incineração tem impactos nocivos à saúde humana, ao meio ambiente (os poluentes são biocumulativos), gera desperdício ao não garantir o alargamento da vida útil dos resíduos passíveis de reciclagem, gera menos postos de trabalho (a incineração de dez mil toneladas de resíduos por ano gera um posto de trabalho, ao passo que sua recuperação pode gerar 647 postos de trabalho), e praticamente desconsidera a presença e contribuição dos catadores na cadeia do reaproveitamento.
Os custos também são exorbitantes e deixam dívidas para gestões posteriores a que a implanta. Além disso, ao se queimar desconsidera-se a alternativa de aproveitamento de 90 a 95% dos resíduos para finalidades ambientalmente saudáveis e duráveis: compostagem e reciclagem. Os aterros sanitários podem ser utilizados de forma consorciada por um conjunto de municípios que estariam destinando apenas 5 a 10% dos seus resíduos para estes locais, ou seja, o rejeito. Com isso aterros teriam longa vida útil.
IHU On-Line – Como dar conta do lixo produzido numa época em que a obsolescência tecnológica e o consumo de produtos embalados imperam e, obviamente, se descartam mais papel, plástico e embalagens de modo geral?
Elisabeth Grimberg – A lei ao responsabilizar fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes deverá levar a médio e longo prazo a uma revisão e reprogramação do padrão de produção, pois o excesso de embalagens terá custos no pós-consumo e isso deverá ser um estímulo para a reprogramação de produtos e embalagens. Também produtos tais como eletroeletrônicos (computadores, telefones etc.), eletrodomésticos, entre outros, poderão ter estruturas duráveis e serem recondicionáveis de tal forma que possam ser substituídos por mecanismos/motores ecoeficientes, o que reduzirá a geração de resíduos. Caberá à sociedade pressionar por uma legislação que exija mudanças no padrão de produção industrial na direção contrária à obsolescência programada e também ações cidadãs no sentido da recusa ao consumo de bens com este perfil. As redes sociais são potentes e poderão cumprir este papel de conscientizar e mobilizar a sociedade para que atue sobre fabricantes e o Estado.
IHU On-Line – Que aspectos da Política são mais difíceis de serem implantados?
Elisabeth Grimberg – Não creio que haja aspectos difíceis de serem implantados; já existem acúmulos, instrumentos, expertises para se implantar a PNRS de forma plena.

Até amanhã, amig@s!
 
Fonte: IHU Online

sábado, 13 de outubro de 2012

Barreira de corais à beira do colapso

Em menos de dez anos, pouco, ou nada, restará da Grande Barreira de Corais da Austrália, de 2.300 quilômetros de comprimento, alerta um estudo científico divulgado Terça- Feira.

A menos que as autoridades australianas tomem medidas urgentes, em uma década permanecerão apenas 10% dos três mil arrecifes que formam a Barreira em águas do leste do país, afirma a pesquisa publicada na revista Proceedings of the National Academy of Sciences. Mais da metade dos corais do arrecife morreram nos últimos 27 anos.
“Estamos perdendo um ecossistema inteiro no sistema de arrecifes coralinos melhor manejado do mundo”, disse Katharina Fabricius, do Instituto Australiano de Ciência Marinha (Aims), coautora do estudo. “Esta é a primeira análise exaustiva de todos os dados destacados na Grande Barreira de Corais”, afirmou à IPS. “Não posso acreditar; é realmente comovente”, declarou Graeme Kelleher, diretor fundador da Autoridade do Parque Marinho da Grande Barreira de Corais, que protege e administra a maior parte deste ecossistema desde 1975. “Se o pessoal do Aims o fez, então deve ser real”, afirmou Kelleher quando a IPS lhe mostrou uma cópia embargada do estudo.
Houve advertências anteriores de que a Austrália estava perdendo uma das sete maravilhas naturais do mundo, atração turística que fatura US$ 6 bilhões anualmente. Este ano a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) anunciou que poderia rebaixar a prestigiosa designação do arrecife de Sítio do Patrimônio Mundial para Sítio do Patrimônio Mundial em Perigo”. Tempestades, brotos de estrelas do mar da variedade coroa de espinhos e esbranquiçamento dos corais são os responsáveis por dizimar o maior arrecife do mundo, afirma o estudo do Aims.
Poderosos furacões, como o Yasi em 2011, prejudicaram este bioma com suas intensas ondas. Entretanto, um impacto maior foi a chuva torrencial que caiu, causando grandes inundações que lavaram da terra grandes quantidades de fertilizantes, pesticidas, dejetos animais e sedimentos, que foram parar no arrecife. Esses resíduos líquidos afetam diretamente o arrecife, e também criam as condições perfeitas para o surgimento da estrela do mar coroa de espinhos, que se alimenta de coral. “As recentes inundações que quebraram a seca golpearam duramente o arrecife”, explicou Fabricius.
As tempestades e seus consequentes resíduos líquidos são diretamente responsáveis por 48% das mortes de corais. As estrelas marinhas coroa de espinhos respondem por 42%, enquanto a descoloração originada por águas muito quentes matam 10%, segundo o estudo intensivo de 214 dos três mil arrecifes da Grande Barreira de Corais. Apenas 3% dos arrecifes levantados resultaram intactos.
“Uma única estrela do mar coroa de espinhos pode pôr 60 milhões de ovos, e suas larvas se alimentam do plâncton que se desenvolve a partir dos altos níveis de nutrientes procedentes da terra”, contou Fabricius. Esses nutrientes se originam em boa parte em fontes agrícolas, principalmente na cana-de-açúcar e no pastoreio, destacou. A maior parte da Grande Barreira de Corais se encontra em águas do Estado de Queensland, que é a maior região agrícola da Austrália.
As estrelas do mar coroa de espinhos são uma espécie nativa cuja população explodiu nos últimos 20 anos. Não se conhece nenhuma maneira de controlá-las de modo efetivo. Mergulhadores as matam individualmente, mas é impossível seguir o ritmo delas. A única solução é um manejo de bacias especificamente dirigido a reduzir os níveis de nutrientes em águas costeiras, segundo Fabricius.
“Não podemos deter as tempestades, mas, talvez, possamos deter as estrelas do mar. Se conseguirmos, o arrecife terá maior oportunidade de adaptar-se aos desafios da elevação da temperatura do mar e da acidificação oceânica”, disse John Gunn, presidente do Aims. É provável que a investigação do Aims seja criticada na Austrália, embora se baseie no programa de monitoramento de arrecifes mais exaustivo do mundo. “Nossos pesquisadores passaram mais de 2.700 dias no mar e realizamos um investimento da ordem de US$ 50 milhões neste programa”, disse Peter Doherty, pesquisador do Aims.
O novo primeiro-ministro de Queensland, Campbell Newman, ignora as preocupações da Unesco sobre a Grande Barreira de Corais, e seu governo, incluído o ministro do Meio Ambiente, expressou dúvidas quanto aos seres humanos estarem influindo na mudança climática. A IPS informou anteriormente que o governo de Newman busca expandir agressivamente a mineração de carvão e a indústria exportadora, e aprovou a dragagem excessiva para a expansão de portos carboníferos já existentes e para a criação de novos.
Atualmente, cerca de 1.700 navios carregados de carvão navegam pela Grande Barreira de Corais ou em suas proximidades, e esse número subirá para dez mil em 2020, segundo estimativas. E já houve acidentes. Em 2010, o navio Shen Neng, carregado de carvão, pegou um atalho e encalhou no arrecife, deixando uma cicatriz de três quilômetros, um vazamento de petróleo e um rastro de toxinas derivadas de sua pintura anti-incrustante.
Gigantescos navios-tanque para gás natural liquefeito também chegam à Grande Barreira de Corais. E Queensland aprovou centenas de locais para perfuração, incluídas operações de fratura hidráulica para aproveitar os depósitos de gás de carvão (também conhecido como metano do leito de carvão).
Para o centro de Queensland foi proposta a criação processadoras de gás natural liquefeito com instalações portuárias. No porto de Gladstone já acontece uma dragagem extensiva, e o ministro do Meio Ambiente da Austrália aprovou lançar no oceano milhões de toneladas de material dragado dentro das fronteiras do Parque Marinho da Grande Barreira de Corais.
A Barreira poderá se recuperar se for adequadamente protegida, mas sua reabilitação consumirá de dez a 20 anos, disse Hugh Sweatman, coautor do estudo do Aims. Este ecossistema obter o espaço que precisa para respirar e se recuperar dos múltiplos ataques, além de se proteger de futuros impactos, está totalmente nas mãos dos australianos.

Até amanhã, amig@s!
Fonte: IPS

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O que pode levar a uma cidade sustentável? artigo de Washington Novaes

[O Estado de S.Paulo] Pois não é que, enquanto o eleitor se pergunta, aflito, em quem votar para resolver os dramáticos problemas das nossas insustentáveis grandes cidades, um pequeno país de 450 mil habitantes – a África Equatorial – anuncia (Estado, 10/6) que até 2025 terá construído uma nova capital “inteiramente sustentável” de 40 mil casas para 140 mil habitantes, toda ela só com “energias renováveis”, principalmente a fotovoltaica? Mas como afastar as dúvidas do eleitor brasileiro que pergunta por que se vai eliminar uma “florestal equatorial” – tão útil nestes tempos de problemas climáticos – e substituí-la por áreas urbanas?
Bem ou mal, o tema das “cidades sustentáveis” entra na nossa pauta. Com Pernambuco, por exemplo, planejando todo um bairro exemplar em matéria de água, esgotos, lixo, energia, telecomunicações, em torno do estádio onde haverá jogos da Copa de 2014, inspirado em Yokohama (Valor, 24/6), conhecida como “a primeira cidade inteligente do Japão”. E até já se noticia (12/7) que o Brasil ocupa o quarto lugar no ranking de “construções sustentáveis” no mundo, depois de Estados Unidos, China e Emirados Árabes – já temos 52 certificadas e 474 “em busca do selo”, por gastarem 30% menos de energia, 50% menos de água (com reutilização), reduzirem e reciclarem resíduos, além de só utilizarem madeira certificada e empregarem aquecedores solares.
“As cidades também morrem”, afirma o professor da USP João Sette Whitaker Ferreira (Eco 21, junho de 2012), ressaltando que, enquanto há 50 anos se alardeava que “São Paulo não pode parar”, hoje se afirma que a cidade “não pode morrer” – mas tudo se faz para a “morte anunciada”, ao mesmo tempo que o modelo se reproduz pelo País todo. Abrem-se na capital paulista mais pistas para 800 novos automóveis por dia, quem depende de coletivos gasta quatro horas diárias nos deslocamentos, os bairros desfiguram-se, shoppings e condomínios fechados avançam nos poucos espaços ainda disponíveis, 4 milhões de pessoas moram em favelas na região metropolitana.
Não é um problema só brasileiro. Em 1800, 3% da população mundial vivia em cidades, hoje estamos perto de 500 cidades com mais de 1 milhão de pessoas cada uma, quase 1 bilhão vive em favelas. Aqui, com perto de 85% da população em áreas urbanas, 50,5 milhões, segundo o IBGE, vivem em moradias sem árvores no entorno (26/5), seis em dez residências estão em quarteirões sem bueiros, esgotos correm na porta das casas de 18,6 milhões de pessoas. Quase metade do solo da cidade de São Paulo está impermeabilizada, as variações de temperatura entre uma região e outra da cidade podem ser superiores a 10 graus (26/3).
Estamos muito atrasados. Na Europa, 186 cidades proibiram o trânsito ou criaram áreas de restrição a veículos com alto teor de emissão (26/2), com destaque para a Alemanha. Ali, em um ano o nível de poluição do ar baixou 12%. Londres, Estocolmo, Roma, Amsterdam seguem no mesmo rumo, criando limite de 50 microgramas de material particulado por metro cúbico de ar, obedecendo à proposta da Organização Mundial de Saúde. No Brasil o limite é três vezes maior.
E há novos problemas claros ou no horizonte, contra os quais já tomaram posição cidades como Pyongyang, que não permite a ocupação de espaços públicos urbanos por cartazes, grafites, propaganda na fachada de lojas, anúncios em néon (New Scientist, 19/5). É uma nova e imensa ameaça nos grandes centros urbanos, atopetados por informações gráficas e digitais projetadas. Quem as deterá? Com que armas, se as maiores fabricantes de equipamentos digitais lançam a cada dia novos geradores de “realidade ampliada”, a partir de fotos, vídeos e teatralizações projetados? O próprio interior das casas começa a ser tomado por telas gigantescas.
Um bom ponto de partida para discussões sobre as áreas urbanas e seus problemas pode ser o recém-editado livro Cidades Sustentáveis, Cidades Inteligentes” (Brookman, 2012), em que o professor Carlos Leite (USP, Universidade Presbiteriana Mackenzie) e a professora Juliana Marques Awad argumentam que “a cidade sustentável é possível”, pode ser reinventada. Mas seria “ingênuo pensar que as inovações tecnológicas do século 21 propiciarão maior inclusão social e cidades mais democráticas, por si sós”. A s cidades – que se tornaram “a maior pauta do planeta” – “terão de se reinventar”, quando nada porque já respondem por dois terços do consumo de energia e 75% da geração de resíduos e contribuem decisivamente para o processo de esgotamento de recursos hídricos, com um consumo médio insustentável de 200 litros diários por habitante. “Cidades sustentáveis são cidades compactas”, dizem os autores, que estudam vários casos, entre eles os de Montreal, Barcelona e São Francisco. E propõem vários caminhos, com intervenções que conduzam à regulação das cidades e à reestruturação produtiva, capazes de levar à sustentabilidade urbana.
Mas cabe repetir o que têm dito vários pensadores: é preciso mudar o olhar; nossas políticas urbanas se tornaram muito “grandes”, distantes dos problemas do cotidiano do cidadão comum; ao mesmo tempo, muito circunscritas, são incapazes de formular macropolíticas coordenadas que enfrentem os megaproblemas. No caso paulistano, por exemplo, é preciso ter uma política ampla e coordenadora das questões que abranjam toda a região metropolitana; mas é preciso descentralizar a execução e colocá-la sob a guarda das comunidades regionais/locais. Não custa lembrar que há alguns anos um grupo de professores da Universidade de São Paulo preparou um plano para a capital paulista que previa a formação de conselhos regionais e subprefeituras, com a participação e decisão de conselhos da comunidade até sobre o orçamento; mas as discussões na Câmara Municipal levaram a esquecer o macroplano e ficar só com a criação de novos cargos.
Por aí não se vai a lugar nenhum – a não ser a problemas mais dramáticos.
Washington Novaes é jornalista
Artigo originalmente publicado em O Estado de S.Paulo
EcoDebate, 30/07/2012