Custos com a mudança climática podem chegar a US$ 2 trilhões anuais até o fim do século.
Colocar um preço em algo que não tem
preço é um tanto complicado. No entanto, é possível atribuir um número a
quanto dano está sendo feito a essa coisa sem preço.
No caso dos
oceanos, estima-se que o custo da mudança climática atinja
aproximadamente US$ 2 trilhões anuais, ou cerca de 0,4% do PIB global
até 2100. Qualquer número que se propõe a descrever uma economia de nove
décadas, portanto, deve ser analisado com prudência, é claro. Mas não
deve ser descartado.
Frank Ackerman e Elizabeth Stanton,
economistas do Stockholm Environment Institute (SEI), uma organização de
pesquisa sem fins lucrativos, chegaram a esse número analisando cinco
medidas: o quanto a pesca e o turismo têm a perder, qual seria o impacto
econômico do aumento dos níveis do mar e das tempestades, e a
diminuição da absorção de carbono pelos oceanos. Se o mundo continuar a
esquentar na taxa atual e as temperaturas subirem 4°C até 2100, dizem
eles, o total chegará a US$ 1,98 trilhão. Se medidas drásticas forem
tomadas para reduzir as emissões e a temperatura aumentar em apenas
2,2°C, o custo cairá para US$ 612 bilhões.
Isso não leva em conta acontecimentos
catastróficos inesperados. O que aconteceria se a camada de gelo da
Groenlândia se desprendesse? E se todo o metano armazenado no Ártico
fosse liberado? As pesquisas preferem não contemplar esses cenários.
Como resultado, a sua visão pode ser encarada como uma estimativa
conservadora. O argumento econômico do novo livro da SEI, Valuing the Ocean (Valorização
do Oceano), é o de que o mundo deve economizar, pelo menos, US$ 1
trilhão todos os anos se tiver a preocupação de combater as mudanças
climáticas.
Uma imagem aproximada e gritante
Estimativas do PIB mundial daqui a um
século dependem de muitas variáveis para serem calculadas com precisão. O
mesmo vale para o aumento real da temperatura até 2100. E o dano
causado a perspectivas econômicas se baseia em estimativas de fatores
como o crescimento da renda e a demanda por peixes e turismo.Tudo isto
faz os números da SEI parecerem um tanto precisos demais. Mas trate-o
como uma medida aproximada, e a imagem que eles pintam é gritante.
O objetivo do exercício é, naturalmente,
fazer com que legisladores e a população se conscientizem. Ackerman
gostaria de ver a mudança climática tão entranhada nas cabeças das
pessoas quanto a segurança dos aeroportos ou o risco de que suas casas
peguem fogo. Ele tem sido um crítico feroz das análises de
custo-benefício utilizadas na formulação de políticas. Em vez disso,
Ackerman sugere que o combate às alterações climáticas seja encarado
como uma forma de seguro.
Pessoas fazem seguros contra coisas
improváveis, mas que causariam um dano enorme se acontecessem. As
chances de um incêndio em casa ou de um jovem casal morrer de repente,
deixando seus filhos sem qualquer apoio são minúsculos (pelo menos na
maioria dos casos). No entanto, as pessoas pagam às companhias de
seguros grandes quantidades de dinheiro todos os anos para estarem
preparados caso estejam entre os azarados. O mesmo raciocínio, diz ele,
deve aplicar-se às alterações climáticas: é melhor se proteger contra um
terrível destino, do que alegremente supor que ele não vai acontecer.
A analogia é imperfeita. Os seguros
lidam com riscos individuais, e é impossível combinar financeiramente um
risco que afete o mundo inteiro. Seguindo esse raciocínio, combater o
aquecimento global está mais próximo dos gastos de defesa – coleta-se
agora para se defender de um futuro incerto – contra algo que poucos
consideram pouco razoável, mesmo nos momentos mais pacíficos.
As pessoas notam alguns problemas mais
do que outros. A poluição do ar tem um impacto direto na qualidade de
vida. Reduzir os combustíveis fósseis, a maioria dos quais são também
sujos de outras maneiras, significa menos carbono, bem como menos
problemas nos pulmões das pessoas. Mas as emissões de carbono reduzidas
também detêm a acidificação dos oceanos que, apesar de todos os seus
efeitos sobre os belos recifes de coral, é, ao mesmo tempo, abstrata e
imperceptível para a maioria das pessoas. Transformar os oceanos em tema
de conversa é difícil; US$ 2 trilhões devem ajudar a manter a
concentração.
* Publicado originalmente no site Opinião e Notícia.!
Até amanhã, amig@s!
Fonte: Envolverde
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