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quarta-feira, 11 de abril de 2012

O valor dos oceanos

Custos com a mudança climática podem chegar a US$ 2 trilhões anuais até o fim do século.
Colocar um preço em algo que não tem preço é um tanto complicado. No entanto, é possível atribuir um número a quanto dano está sendo feito a essa coisa sem preço. 

No caso dos oceanos, estima-se que o custo da mudança climática atinja aproximadamente US$ 2 trilhões anuais, ou cerca de 0,4% do PIB global até 2100. Qualquer número que se propõe a descrever uma economia de nove décadas, portanto, deve ser analisado com prudência, é claro. Mas não deve ser descartado.
Frank Ackerman e Elizabeth Stanton, economistas do Stockholm Environment Institute (SEI), uma organização de pesquisa sem fins lucrativos, chegaram a esse número analisando cinco medidas: o quanto a pesca e o turismo têm a perder, qual seria o impacto econômico do aumento dos níveis do mar e das tempestades, e a diminuição da absorção de carbono pelos oceanos. Se o mundo continuar a esquentar na taxa atual e as temperaturas subirem 4°C até 2100, dizem eles, o total chegará a US$ 1,98 trilhão. Se medidas drásticas forem tomadas para reduzir as emissões e a temperatura aumentar em apenas 2,2°C, o custo cairá para US$ 612 bilhões.
Isso não leva em conta acontecimentos catastróficos inesperados. O que aconteceria se a camada de gelo da Groenlândia se desprendesse? E se todo o metano armazenado no Ártico fosse liberado? As pesquisas preferem não contemplar esses cenários. Como resultado, a sua visão pode ser encarada como uma estimativa conservadora. O argumento econômico do novo livro da SEI, Valuing the Ocean (Valorização do Oceano), é o de que o mundo deve economizar, pelo menos, US$ 1 trilhão todos os anos se tiver a preocupação de combater as mudanças climáticas.
Uma imagem aproximada e gritante
Estimativas do PIB mundial daqui a um século dependem de muitas variáveis para serem calculadas com precisão. O mesmo vale para o aumento real da temperatura até 2100. E o dano causado a perspectivas econômicas se baseia em estimativas de fatores como o crescimento da renda e a demanda por peixes e turismo.Tudo isto faz os números da SEI parecerem um tanto precisos demais. Mas trate-o como uma medida aproximada, e a imagem que eles pintam é gritante.
O objetivo do exercício é, naturalmente, fazer com que legisladores e a população se conscientizem. Ackerman gostaria de ver a mudança climática tão entranhada nas cabeças das pessoas quanto a segurança dos aeroportos ou o risco de que suas casas peguem fogo. Ele tem sido um crítico feroz das análises de custo-benefício utilizadas na formulação de políticas. Em vez disso, Ackerman sugere que o combate às alterações climáticas seja encarado como uma forma de seguro.
Pessoas fazem seguros contra coisas improváveis, mas que causariam um dano enorme se acontecessem. As chances de um incêndio em casa ou de um jovem casal morrer de repente, deixando seus filhos sem qualquer apoio são minúsculos (pelo menos na maioria dos casos). No entanto, as pessoas pagam às companhias de seguros grandes quantidades de dinheiro todos os anos para estarem preparados caso estejam entre os azarados. O mesmo raciocínio, diz ele, deve aplicar-se às alterações climáticas: é melhor se proteger contra um terrível destino, do que alegremente supor que ele não vai acontecer.
A analogia é imperfeita. Os seguros lidam com riscos individuais, e é impossível combinar financeiramente um risco que afete o mundo inteiro. Seguindo esse raciocínio, combater o aquecimento global está mais próximo dos gastos de defesa – coleta-se agora para se defender de um futuro incerto – contra algo que poucos consideram pouco razoável, mesmo nos momentos mais pacíficos.
As pessoas notam alguns problemas mais do que outros. A poluição do ar tem um impacto direto na qualidade de vida. Reduzir os combustíveis fósseis, a maioria dos quais são também sujos de outras maneiras, significa menos carbono, bem como menos problemas nos pulmões das pessoas. Mas as emissões de carbono reduzidas também detêm a acidificação dos oceanos que, apesar de todos os seus efeitos sobre os belos recifes de coral, é, ao mesmo tempo, abstrata e imperceptível para a maioria das pessoas. Transformar os oceanos em tema de conversa é difícil; US$ 2 trilhões devem ajudar a manter a concentração.
* Publicado originalmente no site Opinião e Notícia.!
Até amanhã, amig@s!
 
Fonte: Envolverde

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