Tóquio, 11 – Os japoneses celebram neste domingo o primeiro aniversário do forte tremor seguido de tsunami que varreu a costa nordeste do país, desencadeando o mais grave acidente nuclear do mundo em 25 anos. Um minuto de silêncio foi feito em todo o Japão, às 14h26 (horário local), exatamente um ano depois que um terremoto de magnitude 9,0 abalou Tohoku, provocando o pior tsunami da região em séculos. Em outros momentos, alguns japoneses também levantaram suas vozes em um protesto contra a política de energia nuclear do país e a lentidão com que as vidas voltam ao normal.
Na região de Tohoku e em várias cidades do país, pessoas participaram de serviços memoriais e concertos, se reuniram com os familiares e amigos próximos e assistiram a reportagens especiais na televisão para relembrar o tríplice desastre que mudou tantas vidas. Cerca de 19 mil pessoas morreram ou ficaram desaparecidas – vítimas principalmente das ondas gigantes que varreram dezenas de comunidades ao longo da costa nordeste.
O dia de hoje também testemunhou um ativismo recém surgido em uma nação conhecida pela indiferença política. Manifestações antinuclear aconteceram em importantes cidades, incluindo um protesto em frente à sede da Tokyo Electric Power, operadora da usina nuclear Fukushima Daiichi.
A demonstração em Tóquio atraiu cerca de 30 mil pessoas, disseram organizadores, tornando-se uma das maiores do último ano. “É importante rezar pelas vítimas do desastre de 11 de março. Mas as orações por si só não mudarão o país”, disse Miyako Maekita, organizador dos protestos na capital.
Em Fukushima, uma manifestação em um estádio de baseball reuniu 16 mil pessoas, segundo organizadores, incluindo muitos agricultores e pescadores cujos meios de subsistência se perderam desde a tragédia. Em Onagawa, cidade costeira da prefeitura de Miyagi que sofreu danos extensos, os moradores celebraram o aniversário de um ano do desastre em locais que ofereciam uma clara visão do oceano, como o telhado de um edifício usado para escapar das ondas gigantes e os destroços de um cais do porto.
Depois de um ano, o impacto do desastre continua reverberando em toda a nação. Em Tohoku, cerca de 350 mil pessoas ainda estão deslocadas de suas casas, com muitas vivendo em apertados alojamentos temporários, algumas desempregas e sem esperança, enquanto enfrentam um futuro incerto.
O acidente de Fukushima contaminou severamente as cidades vizinhas, dentro e fora de um raio de 20 quilômetros, forçando dezenas de milhares de moradores e se mudar de suas casas. O governo japonês deve revisar as várias áreas de evacuação no final de março, e declarar algumas delas inabitáveis por décadas.
Embora o acidente tenha gerado preocupações sobre a segurança da indústria nuclear do Japão, forçando o fechamento de outros reatores nucleares, também reduziu muito a capacidade de fornecimento de energia do país. Com isso, famílias e empresas tiveram que entrar no modo de economia de energia – uma tendência que pode pesar na economia nos próximos anos.
Tóquio desembolsa 20,9 trilhões de ienes (cerca de US$ 250 bilhões) – quase o mesmo tamanho do Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal – para reconstruir o nordeste. Os gastos incham as dívidas do governo do Japão, que já são as piores entre as grandes nações, levantando preocupações sobre a sua sustentabilidade.
Ainda assim, para muitos japoneses, domingo foi um dia para relembrar daqueles que morreram e refletir sobre o que foi perdido. Na capital, cerca de 1.200 pessoas, incluindo algumas autoridades importantes do governo, participaram de uma cerimônia no Teatro Nacional do Japão. O convidado de honra foi o imperador Akihito, que fez uma aparição simbólica apenas três semanas depois de se submeter a uma cirurgia de ponte de safena. Falando devagar, mas em alto e bom tom, o imperador dedicou a maior parte de seu discurso a agradecer as pessoas pelos sacrifícios e trabalho duro.
“Eu nunca poderia esquecer de que havia bombeiros e outros que perderam as vidas para resgatarem outros e garantirem a segurança, mesmo que soubessem que as suas próprias vidas estavam em perigo”, afirmou o imperador Akihito. As informações são da Dow Jones. (Gabriela Mello)
Até amanhã, amig@s!
Fonte: Estadão
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