Na última semana, um novo relatório publicado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) confirmou mais uma vez as estimativas pessimistas sobre o clima do planeta: caso não haja uma mudança nas políticas ambientais e energéticas mundiais, corremos o risco de sofrer com um grande aumento nas emissões e, consequentemente, com uma elevação da temperatura maior do que o esperado.
O documento, intitulado Panorama ambiental da OCDE para 2050: as consequências da inação, releva que “a menos que o mix global de energia mude, os combustíveis fósseis fornecerão cerca de 85% da demanda de energia em 2050, implicando em um aumento de 50% nas emissões de gases do efeito estufa e piorando a poluição urbana do ar”.
De acordo com a análise, a economia global deve quadruplicar até 2050, o que pode ocasionar um aumento de 80% no consumo global de energia em relação aos níveis atuais. No entanto, se não houver grandes alterações nas políticas energéticas de hoje, o mix de energia deve mudar pouco, continuando a depender primordialmente das fontes fósseis.
Esse aumento no consumo de energia afetará, consequentemente, as emissões, o que levará a uma elevação na temperatura global maior do que os dois graus Celsius previstos pelos cientistas como sendo o limite para evitar os impactos mais catastróficos das mudanças climáticas. Segundo a OCDE, com a atual tendência no consumo energético e nas emissões, a elevação nas temperaturas deve ficar entre os três e os seis graus Celsius até 2100.
Mas não é apenas o clima que será afetado. O relatório indica que a inação pode causar uma perda de 10% na biodiversidade mundial. Além disso, com um aumento na demanda hídrica de 55% para suprir uma população que deve atingir nove bilhões em 2050, o documento calcula que cerca de 40% das pessoas devem passar a viver em áreas de estresse hídrico, ou seja, em que a demanda de água é maior do que a oferta.
E essas não são as únicas más notícias da análise. A OCDE aponta ainda que com o aumento das emissões, as mortes prematuras por exposição à poluição devem dobrar para 3,6 milhões por ano e os custos para mitigar os riscos climáticos devem aumentar em 50%.
“A mensagem chave é que os governos não podem escolher partes [para resolver]. Faça um trabalho ruim na energia e isso atingirá você na água ou na biodiversidade”, observou Simon Upton, diretor ambiental da OCDE.
Para tentar combater essas tristes previsões, o relatório sugere que as ações climáticas devam começar já em 2013, com a implementação de mercados globais de carbono, substituição das fontes fósseis de energia por alternativas mais limpas, estímulo ao desenvolvimento de tecnologias para redução das emissões como a captura e o armazenamento de carbono (CCS), imposição de taxas às emissões, extinção dos subsídios aos combustíveis fósseis etc.
O documento aconselha também a criação de padrões e regulamentações mais eficientes com o intuito de promover as inovações verdes. “Os governos têm que mandar sinais que afetem os investimentos em longo prazo. Sem um sinal de preço de longo prazo que suba constantemente, você não vai ter investidores seguindo o caminho certo. Para além de 2020 podemos fazer uma diferença real, mas precisamos investir agora”, comentou Upton.
E segundo o relatório, agir agora em relação às políticas climáticas causará, por exemplo, muito menos impacto financeiro: atualmente, uma precificação global do carbono para reduzir as emissões em cerca de 70% até 2050 diminuiria o crescimento econômico em apenas 0,2% por ano, custando somente 5,5% do PIB global.
Por fim, a OCDE recomenda que se façam parcerias público-privadas para desenvolver ações climáticas, e que o setor privado inclua os riscos climáticos em suas estratégias de longo prazo. “Se [as empresas] não estão pensando na eficiência de recursos, e se elas não estão pensando em como elas vão fazer negócios em um mundo com recursos muito mais escassos, elas podem ficar fora dos negócios. A primeira vantagem vai ser das indústrias que lerem estes sinais e tomarem atitudes para se colocarem na linha de frente”, alertou o diretor ambiental.
No entanto, as esperanças, por enquanto, não são muitas: um novo acordo climático internacional é improvável pelo menos até 2020 e as medidas existentes não estão conseguindo sequer manter as emissões estáveis, o que coloca em risco o êxito das atuais promessas no corte de carbono.
Autor: Jéssica Lipinski – Fonte: Instituto CarbonoBrasil/OCDE
Nenhum comentário:
Postar um comentário