Lideranças apontam que economia sustentável e a preservação do meio ambiente só vão entrar definitivamente na pauta dos governos quando forem necessários em um momento de crise.
O ex-presidente do Brasil,Fernando Henrique Cardoso, e o diretor executivo do Greenpeace, Kumi Naidoo, que participaram nesta sexta-feira do segundo dia do Fórum Mundial de Sustentabilidade, realizado em Manaus, foram enfáticos ao dizer que a economia sustentável e a preservação do meio ambiente não estão na pauta prioritária dos governantes no mundo.
O ex-primeiro-ministro da França, Dominique de Villepin, que também estava presente no evento destacou que os países desenvolvidos estão preocupados com outros assuntos, como a crise europeia, as eleições americanas e os problemas com o euro.
Fernando Herinque, que governou o País entre 1995 e 2002, destacou que durante o seu governo a prioridade foi organizar a economia brasileira e dar mais qualidade de vida a população. Apesar dos sinais para o tema já serem evidentes e apontarem para um problema futuro já naquela época a preservação do meio ambiente ficava em segundo plano, segundo Henrique.
- Nas condições em que nos vivíamos naquela época podia ser feito mais, sim. O grande impulso veio na Assembleia Nacional Constituinte. Esse foi o momento em que o País passou a sonhar e se preocupar com o assunto, mas passou a ter também pesadelos. Nesse momento a prioridade era colocar ordem na Casa. Na época a questão do meio ambiente não vinha com prioridade. Sinais foram dados, mas não houve empenho do governo para que avançássemos mais.
Cardoso também aponta para uma necessidade de trabalhar a consciência ideológica dos líderes governamentais. Para ele é preciso pensar as questões climáticas, a sustentabilidade e outros temas como prioridade mundial. Segundo ele, o tema sustentabilidade é um desafio de mentalidade.
- Precisamos trabalhar a forma como injetar na cabeça do povo essas questões e não só do povo, mas dos nossos governantes. Temos que mudar a mentalidade da população. Não é só preservar a floresta. É preciso pensar a questão energética, a poluição urbana, a economia sustentável e isso perpassa não só como uma atitude dos governantes e sim de toda a sociedade.
A Rio +20, que será realizada no Brasil em junho, foi lembrada pelo ex-primeiro-ministro Dominique de Villepin. Ele chamou a atenção dos participantes para o desinteresse dos líderes mundiais com o assunto e disse temer que o encontro não passe de um debate sem avanços concretos no futuro, assim como aconteceu em outros eventos mundiais que trataram do mesmo tema.
- Talvez a Rio +20 não seja de grande atrativo. Os governos não são pautados por grandes temas estratégicos, mas sim pelas grandes urgências. A economia sustentável e o meio ambiente ainda não estão na pauta dos grandes líderes. Vai entrar em pauta quando se tornar emergente, quando começarmos a sofrer com os impactos do desmatamento e da escassez de recursos naturais. Só vão se atentar para o tema quando perceberem que lucros podem tirar da economia verde. Não era pra ser assim.
Villepin destacou que o Brasil pode tomar a liderança mundial do assunto e ampliar os debates. O cenário é favorável para ele o que falta é uma liderança que tome frente do assunto e chame os demais países para o debate, além de realizar ações concretas.
Já o líder do Greenpeace chamou a atenção para a forma como os países tratam o tema.
- O modelo de crescimento atual é insustentável. Quando os governantes discutem sobre os impactos e mudanças climáticas tratam como se fosse algo que vai ocorrer no futuro. Não. Os impactos estão ocorrendo agora e estão roubando vidas. Vidas são perdidas anualmente pelo impacto climático e quem paga por esse impacto são os países menos responsáveis pela poluição e pela destruição do meio ambiente.
O Fórum termina amanhã com a participação do Chefe do Povo Indígena Paiter Suruí, Almir Suruí, a ativista social e ambiental , Bianca Jagger, do Deputado Federal, José Sarney Filho e outros convidados.
Fonte: O Globo
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