Movimento indígena, organizações sociais, camponeses, ecologistas, homens e mulheres do campo e da cidade estão em marcha no Equador desde o dia 8 de março. Eles caminham pela água, a vida e a dignidade dos povos. A atividade é um protesto contra o modelo de desenvolvimento que está em curso no país, baseado na destruição da natureza através da mineração indiscriminada e a céu aberto. Essa exploração está colocando em risco a água das comunidades e todos entendem que a água pura e limpa não só é um direito humano, mas também um direito da natureza, que deve ser protegida conforme manda a Constituição no seu artigo 12.
O texto constitucional estabelece que o direito humano à agua não se refere apenas ao acesso para o consumo humano e doméstico, mas também relaciona a água com a saúde, os usos culturais e à soberania alimentaria. Além disso, o texto determina que a natureza tenha direitos conforme pode ser observado nos artigos 66, 71 e 318. E, vale lembrar, muito sangue foi derramado para que essa Constituição vingasse e tivesse uma cara popular. Daí a necessidade de defendê-la e fazer valer a lei construída de forma participativa por toda a gente do Equador.
Os indígenas e demais movimentos envolvidos na luta pela água lembram que o Equador se reconhece como um estado Plurinacional e Intercultural e que a construção dessa nova realidade depende da preservação das fontes de água e do reconhecimento de que o uso e o manejo da água vêm dos conhecimentos transmitidos ancestralmente. “É nesse acervo que se assenta a identidade plurinacional e intercultural. A água é mais importante do que o ouro ou o cobre”.
Segundo os caminhantes a água não é uma mercadoria que se pode vender ou comprar, ela é um direito e não poda estar exposta a interesses movediços. Assim que não é possível aceitar que se coloque em risco a água por conta dos interesses das mineradoras ou do que o Estado chama de “plano de desenvolvimento”, bem ao gosto do desenvolvimentismo predador e entreguista. Eles denunciam que o Projeto de mineração Mirador, em Zamora Chinchipre, necessitará de 140 litros de água por segundo para o seu funcionamento (com um consumo de energia igual a de uma cidade de 150 mil habitantes), colocando em risco o abastecimento das comunidades locais.
A marcha pela água no Equador começou no dia 8 de março e segue percorrendo o país abrindo espaço para as mais diversas manifestações por todos os cantos onde passa. O protesto reúne com mais força as comunidades indígenas, tradicionalmente mais envolvidas com esse tipo de luta em defesa da natureza. Porque para essas comunidades a água, a terra, os animais, fazem parte de um todo sagrado, parte constitutiva da cultura. Assim que a luta em defesa da natureza não é uma coisa ritual. É a defesa da vida mesma, de uma maneira de ser no mundo. É o anúncio de outro modo de organizar a vida, baseado no sumak kausay (o bem viver).
A marcha deve chegar a Quito no próximo dia 22 de março com um grande ato público, celebrando, além da histórica caminhada, o Dia Mundial da Água. O objetivo é sensibilizar o governo de Rafael Correa que insiste em liberar a extração de minérios sob a velha cantilena de que é no “interesse nacional”.
Até amanhã, amig@s!
Autor: Elaine Tavares
Fonte: Instituto Carbono Brasil
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