A maior parte dos corais do mundo
prospera em zonas marinhas pouco profundas, às quais chega a luz que
precisam para crescer. Contudo, o acelerado aumento do nível do mar,
pelo derretimento dos gelos polares, porá fim a essa vantagem. Medições
feitas em regiões tropicais revelam que a elevação de seus mares (de 3,3
milímetros ao ano) está ocorrendo em um ritmo mais acelerado do que o
do crescimento de muitos corais nos últimos dez mil anos, indicam
pesquisas divulgadas no XII Simpósio Internacional sobre Arrecifes de
Coral.
O excesso de dióxido de carbono está afetando a acidez dos oceanos, que
já absorveram cerca de um terço de todas as emissões humanas desse gás
de efeito estufa.
Uma peça colorida de coral é formada por
milhares de diminutos animais, pólipos, que criam ao seu redor
esqueletos calcários com forma de taça, usando cálcio da água do mar. As
cores são dadas pelas microalgas que vivem em simbiose com eles.
Geração após geração, os pólipos coralinos vivem, constroem uma parte do
esqueleto que depois será arrecife e morrem. Esse habitat que criam é
para eles mesmos e para cerca de 30% de todas as espécies que habitam os
oceanos.
Quando os corais sofrem temperaturas
muito altas ou contaminação, começam a ficar descoloridos pela morte das
algas, se tornam vulneráveis às doenças e morrem se o branqueamento
durar muito tempo. Os corais fracos ou mortos se quebram e seus
escombros são arrastados pelas ondas e por tempestades.
É possível que a Jamaica seja o país do
Caribe onde os arrecifes tenham se deteriorado mais. Subsistem apenas
entre 5% e 10%, por culpa da contaminação e da pesca excessiva. “Isto
acontece pelo fato de a população ser muito pobre”, pontuou Jeremy.
Entretanto, cada ilha é diferente. As também caribenhas Bonaire e
Curaçao mantêm entre 20% e 30% de sua superfície original, que poderia
ser aumentada com bom manejo, criação de áreas proibidas para pesca,
redução da contaminação procedente da terra e acesso controlado de
turistas, destacou.
“Os arrecifes proporcionam proteção
costeira, alimentos, turismo e outros serviços importantes, e perdê-los
terá enormes consequências para a sociedade humana”, disse Roberto
Iglesias Prieto, pesquisador do Instituto de Ciências do Mar e
Limnologia da Universidade Nacional Autônoma do México. Um estudo feito
em Belize estima que, sem arrecifes para proteger as comunidades
costeiras, as tempestades poderiam causar prejuízos de até US$ 240
milhões. Cerca de um bilhão de pessoas dependem direta ou indiretamente
dos arrecifes para seu sustento, e mais de dois bilhões têm nos pescados
e mariscos sua principal fonte de proteínas.
“Com exceção de uns poucos pontos muito
isolados, a qualidade dos arrecifes coralinos se deteriorou em todo o
mundo, e continuará em declínio”, indicou Roberto. “Perder os benefícios
e serviços proporcionados pelos arrecifes será uma tragédia para a
humanidade”, declarou ao Terramérica. Há consenso entre os cientistas de
que é quase certo que esses serviços vitais se perderão, a menos que
sejam tomadas medidas urgentes para reduzir as emissões de dióxido de
carbono que esquentam e acidificam os oceanos.
“Quando o explorador britânico James
Cook navegou por Cairns, há menos de 300 anos, a atmosfera continha 280
partes por milhão (ppm) de dióxido de carbono. Agora, são 392 ppm”,
disse a cientistas Janice Lough, do Instituto Australiano de Ciências
Marinhas. Nos oceanos tropicais, a maioria das espécies vive em águas
que apresentam variação de temperatura muito reduzida, entre dois e três
graus. Se as temperaturas sobem mais e por períodos prolongados,
algumas não resistem e nem sempre podem ir para outra parte, acrescentou
Janice. “Pequenas mudanças podem ter grandes impactos”, explicou ao
Terramérica.
Em muitos arrecifes tropicais, o
crescimento e a reprodução de peixes diminuem quando a temperatura da
água aumenta apenas dois ou três graus, afirmou Philip Munday,
pesquisador da Escola de Biologia Marinha e Tropical da Universidade
James Cook, da Austrália. Uma mudança aparentemente pequena, mas
inesperada, é que o excesso de dióxido de carbono está afetando a acidez
dos oceanos, que já absorveram cerca de um terço de todas as emissões
humanas desse gás de efeito estufa. Embora esse mecanismo ajude a
reduzir o aquecimento do clima mundial, o excesso de dióxido de carbono
está alterando a composição química dos oceanos, fazendo com que suas
águas sejam 30% mais ácidas.
Philip também descobriu que a maior
acidez oceânica afeta de modo surpreendente o comportamento dos peixes.
“A acidez que estimamos haverá antes do final deste século afeta o
sistema nervoso central de algumas espécies, alterando seus sentidos do
olfato e da audição e suas reações”, explicou. Nessas condições, o
colorido peixe palhaço (Amphiprion ocellaris), famoso por causa do filme Procurando Nemo,
fatalmente se sentirá atraído pelo cheiro dos predadores, acrescentou.
Estas “deficiências sensoriais” dos peixes de arrecife e dos grandes
predadores marinhos vão se manifestar quando houver na atmosfera entre
600 e 850 ppm de dióxido de carbono, que é o esperado para antes do
final deste século se não forem adotadas medidas para reduzir as
emissões, concluiu Philip.
A velocidade destas transformações dos
oceanos é a maior já enfrentada pela capacidade de adaptação das
espécies, segundo mais de 2,5 mil cientistas marinhos afirmam na
Declaração de Consenso sobre Mudança Climática e Arrecifes de Corais,
divulgada no Simpósio. No entanto, há “lampejos de esperança”, por
exemplo em Bonaire, Curaçao e outros lugares onde se pôs em prática um
bom manejo dos arrecifes e foram reduzidos os impactos sobre estes
sistemas, enfatizou Jeremy. “Felizmente, as ações positivas para a
sociedade humana (como reduzir as emissões) também são boas para os
arrecifes”, observou.
Até amanhã, amig@s!
Fonte: Envolverde
Nenhum comentário:
Postar um comentário