Há vários anos já é conhecido o
conceito de que o aquecimento global facilitará a ocorrência e ampliará
os efeitos de eventos climáticos extremos. Porém, a cada novo fenômeno,
cientistas sempre se viam obrigados a afirmar que não era possível
relacionar o evento em questão às mudanças climáticas.
Esta incerteza
dava munição para os céticos que não concordam que estejamos vivendo um
aumento das temperaturas ou que não acreditam que o homem seja
responsável por isso. Aparentemente, este cenário está para mudar
radicalmente.
Uma coletânea de estudos, realizados por
cientistas do serviço meteorológico britânico (Met Office), da
Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA) e
de centros de pesquisas de diversas universidades, afirma que o
aquecimento global tornou mais prováveis alguns dos eventos climáticos
extremos do ano passado e coloca boa parte da responsabilidade disso nas
ações humanas.
Batizada de “Explicando Eventos Extremos de 2011 a partir de uma Perspectiva Climática”,
a coletânea analisa, por exemplo, a seca no estado norte-americano do
Texas e as ondas de calor na Europa. O documento acompanha o relatório
anual“Estado do Clima 2011” , divulgado pelo NOAA nesta semana.
“Esta pesquisa aumenta as fronteiras da
atribuição científica ao quantificar, em um período tão curto após os
eventos climáticos em questão, como as mudanças climáticas têm alterado
as probabilidades da ocorrência destes fenômenos”, afirmou Peter Stott,
chefe de monitoramento climático e atribuição do Met Office.
“Apesar de não termos evidência de que
as mudanças climáticas afetaram as probabilidades de todos os eventos
climáticos que observamos, nós temos certeza que muitos deles ficaram
significantemente mais prováveis. De uma forma geral, estamos
confirmando que a influência do homem está tendo um impacto em muitos
exemplos de clima extremo”, acrescentou.
De acordo com um dos estudos, a
temperatura recorde registrada em novembro do ano passado no Reino
Unido, a segunda mais elevada desde o início das medições em 1659, foi
pelo menos 60 vezes mais provável de acontecer por causa das mudanças
climáticas. Já a onda de calor no Texas, que prejudicou enormemente a
agricultura do estado, foi facilitada em até 20 vezes por causa do
aquecimento global.
Mas nem todos os eventos extremos de
2011 foram resultado das mudanças climáticas, o frio extremo no inverno
britânico, por exemplo, teria sido consequência de variações nos
sistemas oceânicos e na circulação de ar. As terríveis enchentes na
Tailândia também não foram fruto do aumento das temperaturas, nem a
escassez de chuvas fora do comum. Na realidade foram causadas sim pelo
homem, mas não no sentido climático. Ações humanas nos rios do país
teriam sido as grandes responsáveis pela tragédia.
Se estiverem corretos, estes estudos
alcançaram o que vem sendo buscado há muito tempo pelos cientistas
climáticos: separar os diversos fatores que contribuem para determinado
fenômeno.
“Isto é uma nova e excitante ciência, e é
muito polêmica. As pessoas estão tentando diferentes métodos para
entender os impactos de tudo o que colocamos na atmosfera [fazendo
menção aos gases do efeito estufa]”, afirmou Philip Mote, diretor do
Instituto de Pesquisas em Mudanças Climáticas da Universidade do Oregon e
um dos autores do estudo sobre o Texas.
E realmente é polêmica. Mesmo dentro das
entidades envolvidas nas pesquisas, existem dúvidas sobre alguns
aspectos da coletânea. Em entrevista ao New York Times, o meteorologista
do NOAA Martin Hoerling, que possui um trabalho próprio sobre a seca do
Texas, afirmou que, apesar de aceitar que o aquecimento global causado
pelo homem aumenta a probabilidade desse tipo de evento, a falta de
chuvas na região não teria relação com as mudanças climáticas.
“Precisamos ter cuidado sobre que tipos
de respostas podemos dar com credibilidade”, afirmou Hoerling,
criticando a rapidez com a qual os trabalhos da coletânea foram
realizados.
Porém, as críticas não diminuem o otimismo dos cientistas envolvidos nas pesquisas.
“Estamos na Era de Ouro das tecnologias
de satélites e podemos ver agora nosso planeta com mais detalhes do que
nunca. Como resultado, estamos encontrando evidências que vão além do
aumento das temperaturas e observando novas ligações no nosso sistema
climático. As mudanças climáticas diferem radicalmente de uma região
para outra e possuem impactos variados nas nossas vidas (…) As regiões
secas estão ficando ainda mais secas e as úmidas mais úmidas”, afirmou
Kate Willet, pesquisadora do Met Office.
Estado do Clima 2011
“Todo evento climático que acontece
atualmente se dá em um contexto de uma mudança ambiental global”,
declarou Kathryn D. Sullivan, administradora do NOAA, ao divulgar o
relatório anual da entidade.
Um dos destaques do trabalho é o
registro de que o ano passado foi um dos mais quentes sob a atuação do
La Niña – fenômeno que resfria as águas do Oceano Pacífico – que se tem
conhecimento.
A temperatura média de 2011 o coloca
entre os 15 anos mais quentes da história. Dependendo da metodologia
adotada para a medição, o ano passado foi entre 0,09°C a até 0,16°C mais
quente do que a média entre 1981 e 2010.
De acordo com o NOAA, as temperaturas
globais subiram entre 0,71°C e 0,77°C desde 1901, e entre 0,14°C e
0,17°C a cada década desde 1971.
O impacto disto já é sentido em diversas
partes do mundo. No Ártico, onde a taxa de aquecimento está sendo o
dobro da do resto do planeta, foi registrada em 2011 a segunda menor
extensão da camada de gelo que se tem notícia.
Mais de 370 autores de 48 países contribuíram para o “Estado do Clima 2011”, que levou mais de seis meses para ser produzido.
“Este relatório mostra o que está
acontecendo no sistema climático da Terra e onde nosso clima está
mudando. Ele não inclui explicações sobre as causas das mudanças ou
sobre eventos específicos, assim como não prediz o futuro. O ‘Estado do
Clima 2011′ é para ser consultado como o mais extenso e confiável
conjunto de dados climáticos da atualidade”, explicou Jessica Blunden,
editora do relatório.
Até amanhã,amig@s!
Fonte: Instituto Carbono Brasil
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