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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Estudos atribuem eventos extremos às mudanças climáticas


Há vários anos já é conhecido o conceito de que o aquecimento global facilitará a ocorrência e ampliará os efeitos de eventos climáticos extremos. Porém, a cada novo fenômeno, cientistas sempre se viam obrigados a afirmar que não era possível relacionar o evento em questão às mudanças climáticas.
 
Esta incerteza dava munição para os céticos que não concordam que estejamos vivendo um aumento das temperaturas ou que não acreditam que o homem seja responsável por isso. Aparentemente, este cenário está para mudar radicalmente.
Uma coletânea de estudos, realizados por cientistas do serviço meteorológico britânico (Met Office), da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA) e de centros de pesquisas de diversas universidades, afirma que o aquecimento global tornou mais prováveis alguns dos eventos climáticos extremos do ano passado e coloca boa parte da responsabilidade disso nas ações humanas.
Batizada de “Explicando Eventos Extremos de 2011 a partir de uma Perspectiva Climática”, a coletânea analisa, por exemplo, a seca no estado norte-americano do Texas e as ondas de calor na Europa. O documento acompanha o relatório anual“Estado do Clima 2011” , divulgado pelo NOAA nesta semana.
“Esta pesquisa aumenta as fronteiras da atribuição científica ao quantificar, em um período tão curto após os eventos climáticos em questão, como as mudanças climáticas têm alterado as probabilidades da ocorrência destes fenômenos”, afirmou Peter Stott, chefe de monitoramento climático e atribuição do Met Office.
“Apesar de não termos evidência de que as mudanças climáticas afetaram as probabilidades de todos os eventos climáticos que observamos, nós temos certeza que muitos deles ficaram significantemente mais prováveis. De uma forma geral, estamos confirmando que a influência do homem está tendo um impacto em muitos exemplos de clima extremo”, acrescentou.
De acordo com um dos estudos, a temperatura recorde registrada em novembro do ano passado no Reino Unido, a segunda mais elevada desde o início das medições em 1659, foi pelo menos 60 vezes mais provável de acontecer por causa das mudanças climáticas. Já a onda de calor no Texas, que prejudicou enormemente a agricultura do estado, foi facilitada em até 20 vezes por causa do aquecimento global.
Mas nem todos os eventos extremos de 2011 foram resultado das mudanças climáticas, o frio extremo no inverno britânico, por exemplo, teria sido consequência de variações nos sistemas oceânicos e na circulação de ar. As terríveis enchentes na Tailândia também não foram fruto do aumento das temperaturas, nem a escassez de chuvas fora do comum. Na realidade foram causadas sim pelo homem, mas não no sentido climático. Ações humanas nos rios do país teriam sido as grandes responsáveis pela tragédia.
Se estiverem corretos, estes estudos alcançaram o que vem sendo buscado há muito tempo pelos cientistas climáticos: separar os diversos fatores que contribuem para determinado fenômeno.
“Isto é uma nova e excitante ciência, e é muito polêmica. As pessoas estão tentando diferentes métodos para entender os impactos de tudo o que colocamos na atmosfera [fazendo menção aos gases do efeito estufa]”, afirmou Philip Mote, diretor do Instituto de Pesquisas em Mudanças Climáticas da Universidade do Oregon e um dos autores do estudo sobre o Texas.
E realmente é polêmica. Mesmo dentro das entidades envolvidas nas pesquisas, existem dúvidas sobre alguns aspectos da coletânea. Em entrevista ao New York Times, o meteorologista do NOAA Martin Hoerling, que possui um trabalho próprio sobre a seca do Texas, afirmou que, apesar de aceitar que o aquecimento global causado pelo homem aumenta a probabilidade desse tipo de evento, a falta de chuvas na região não teria relação com as mudanças climáticas.
“Precisamos ter cuidado sobre que tipos de respostas podemos dar com credibilidade”, afirmou Hoerling, criticando a rapidez com a qual os trabalhos da coletânea foram realizados.
Porém, as críticas não diminuem o otimismo dos cientistas envolvidos nas pesquisas.
“Estamos na Era de Ouro das tecnologias de satélites e podemos ver agora nosso planeta com mais detalhes do que nunca. Como resultado, estamos encontrando evidências que vão além do aumento das temperaturas e observando novas ligações no nosso sistema climático. As mudanças climáticas diferem radicalmente de uma região para outra e possuem impactos variados nas nossas vidas (…) As regiões secas estão ficando ainda mais secas e as úmidas mais úmidas”, afirmou Kate Willet, pesquisadora do Met Office.
Estado do Clima 2011
“Todo evento climático que acontece atualmente se dá em um contexto de uma mudança ambiental global”, declarou Kathryn D. Sullivan, administradora do NOAA, ao divulgar o relatório anual da entidade.
Um dos destaques do trabalho é o registro de que o ano passado foi um dos mais quentes sob a atuação do La Niña – fenômeno que resfria as águas do Oceano Pacífico – que se tem conhecimento.
A temperatura média de 2011 o coloca entre os 15 anos mais quentes da história. Dependendo da metodologia adotada para a medição, o ano passado foi entre 0,09°C a até 0,16°C mais quente do que a média entre 1981 e 2010.
De acordo com o NOAA, as temperaturas globais subiram entre 0,71°C e 0,77°C  desde 1901, e entre 0,14°C e 0,17°C a cada década desde 1971.
O impacto disto já é sentido em diversas partes do mundo. No Ártico, onde a taxa de aquecimento está sendo o dobro da do resto do planeta, foi registrada em 2011 a segunda menor extensão da camada de gelo que se tem notícia.
Mais de 370 autores de 48 países contribuíram para o “Estado do Clima 2011”, que levou mais de seis meses para ser produzido.
“Este relatório mostra o que está acontecendo no sistema climático da Terra e onde nosso clima está mudando. Ele não inclui explicações sobre as causas das mudanças ou sobre eventos específicos, assim como não prediz o futuro. O ‘Estado do Clima 2011′ é para ser consultado como o mais extenso e confiável conjunto de dados climáticos da atualidade”, explicou Jessica Blunden, editora do relatório.

Até amanhã,amig@s!
 
Fonte: Instituto Carbono Brasil

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