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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Mudanças no horizonte.

Pelo terceiro ano, um grupo de acadêmicos e especialistas se dedicou a fazer uma “varredura de horizontes” para detectar assuntos emergentes que podem afetar a diversidade biológica global no longo prazo. Um artigo recém-publicado traz 15 temas identificados para 2012 (veja aqui e aqui os artigos para os dois anos anteriores).

 Mudanças no Horizonte. Fonte: Lakakau

A ideia do horizon scanning – técnica utilizada por governos e empresas, especialmente na Inglaterra – é identificar tendências incipientes, oportunidades, desafios e limites que possam vir a afetar a probabilidade de que se alcancem objetivos de longo prazo. No caso da biodiversidade, a esperança é que a pesquisa sobre os temas seja incentivada, assim como o debate sobre opções para lidar com eles.
No artigo, publicado na revista Trends in Ecology and Evolution, os autores tentam apresentar os temas de forma neutra, e lembram que os efeitos de muitos dos temas para a diversidade são desconhecidos e podem ser tanto positivos quanto negativos. Aqui vão os assuntos apontados:
Aquecimento do oceano profundo: A temperatura média das bacias abissais dos oceanos – abaixo de 4 mil metros – está subindo e contribuindo para o aumento do nível do mar. Há dificuldades em monitorar a mudança de temperatura porque mesmo os equipamentos mais recentes não operam abaixo de 2 mil metros. Embora o aumento tenha sido modesto até o momento, há pouca informação sobre como vão responder os organismos que habitam as profundezas do oceano. Além disso, a transferência mais rápida de águas da superfície para as regiões mais profundas pode acelerar a acidificação dos oceanos.
Mineração no oceano profundo: Perfurações no solo de oceanos profundos no leste, sul e centro da região norte do Oceano Pacífico identificaram grandes depósitos de terras raras usadas para a fabricação de aparelhos eletrônicos e produtos como painéis solares.
Vazão de metano do fundo do oceano: Grandes quantidades de metano – poderoso gás de efeito estufa – estão contidas em sedimentos em ambientes terrestres e marinhos nas altas latitudes do globo. Há evidências de escape de metano a partir do subsolo marinho devido a aumentos na temperatura global. Sua vazão pode causar mudanças irreversíveis no clima.
Colonização das águas da Antártica devido ao clima: Por 14 milhões de anos, as águas da plataforma continental da Antártica foram mais frias do que as águas mais profundas do Oceano Antártico, o que manteve afastados os predadores de animais de casca dura. Desde 1950, entretanto, as temperaturas médias da superfície do oceano ao redor da Antártica aumentaram 0,6 grau, aumentando a probabilidade de que as espécies intolerantes à água fria ocupem a região. Isso pode afetar os moluscos que evoluíram na Antártica, além de atrair o interesse da indústria pesqueira.
Aumento de farmacêuticos no meio ambiente: A tendência demográfica de envelhecimento das populações em muitos países tem resultado em um aumento na quantidade e diversidade de produtos farmacêuticos lançados no meio ambiente. Os efeitos de crescentes concentrações de farmacêuticos atuais e novos (por exemplo, nano-remédios) sobre outras espécies ainda precisam ser avaliados.
Agricultura estéril: Depois do episódio de E.coli devido ao consumo de espinafre na Califórnia, vários estados americanos adotaram procedimentos para reduzir o riscos microbiológicos para os homens. Entre eles, remoção de vegetação que não pertença à safra, envenenamento das fontes de água para prevenir a presença de animais selvagens, uso de iscas envenenadas, armadilhas e cercas impenetráveis. Alguns agricultores planejam abandonar medidas de conservação como restauração das margens dos rios e reuso de água de irrigação.
Cereais que fixam nitrogênio: Uma das alternativas a fertilizantes sintéticos para as safras de cereais – já em desenvolvimento – são plantas geneticamente modificadas para fixar seu próprio nitrogênio por meio de simbiose com bactérias. Reduzir a aplicação de fertilizantes provavelmente diminuirá o excesso de nutrientes em ecossistemas terrestres, aquáticos e marítimos. Não está claro se o cultivo de cereais que fixam nitrogênio vai aumentar ou diminuir as taxas de conversão da terra para o uso agrícola.
Aumento no cultivo de cereais perenes: Há interesse crescente no desenvolvimento de cereais perenes para aumentar a segurança alimentar. Embora o rendimento seja menor do que das variedades anuais, as safras perenes têm potencial para ocupar terras marginais em ecossistemas áridos e semi-áridos. Podem oferecer um rendimento estável, gerar biomassa para combustível ou ração de animais, aumentar o seqüestro de carbono, além de reduzir custos de sementes, fertilizantes e herbicidas. Podem, também, ser alvo de pestes e agentes patológicos. Os impactos sobre as espécies estão menos claros.
Sequenciamento genômico rápido e barato: Novas tecnologias permitem que genomas sejam seqüenciados em semanas em vez de anos e os avanços tecnológicos devem continuar por algum tempo, revolucionando as possibilidade de decodificação de genomas.
Dessalinização eletroquímica da água: Essa técnica, que usa um campo magnético para retirar sódio e compostos iônicos da água por meio de membranas, requer 50% menos energia do que os métodos em uso. Isso pode permitir a países com déficit de água potável aumentar a oferta para grandes centros populacionais. De outro lado, pode levar a uma expansão da agricultura e da urbanização de paisagens áridas.
Desenvolvimento rápido e aplicação extensiva de grafeno: Grafeno é um filme cristalino de carbono, de espessura de um átomo. Transparente opticamente, quimicamente inerte e excelente condutor, é o material mais fino e mais forte já testado, e se tornou o foco de pesquisa e desenvolvimento em várias indústrias. Pode ter várias aplicações, entre elas melhorar a produção de energia renovável e reduzir as emissões de carbono de produtos industriais como aviões e satélites. A indústria acredita que por ser inerte e puro o grafeno não é tóxico para animais, mas apenas alguns estudos avaliaram seus efeitos ambientais.
Baterias nucleares: Elas dependem do decaimento contínuo de elementos radiativos e prometem uma fonte de energia segura, barata e quase ilimitada. Atualmente usadas para aplicações militares, aeroespaciais e médicas, elas podem vir a mover usinas de dessalinização e navios, assim como fornecer energia para comunidades remotas. Embora as baterias nucleares contenham pequenas quantidades de material nuclear, pouco se sabe dos potenciais efeitos de várias fontes pequenas de lixo radioativo.
Demanda crescente por cimento: A demanda global por cimento deve aumentar 4,1% por ano para 3,5 bilhões de toneladas em 2013. Boa parte do cimento usado em obras de infra-estrutura depende da mineração de calcário presente em substratos de florestas cársticos e em ecossistemas de cavernas.
Turbinas hidrocinéticas in-stream: Métodos para gerar eletricidade hidrocinética in-stream, como turbinas ancoradas ao fundo de um rio, foram desenhados para reduzir os efeitos ambientais indesejados associados aos reservatórios hidroelétricos convencionais. Seus efeitos, entretanto, não são totalmente compreendidos e podem incluir mudanças nos regimes hidráulicos, na estrutura do fundo dos rios, sedimentação, dinâmica de população de peixes, níveis de barulho e campos eletromagnéticos.
Queima da tundra no Ártico: Estima-se que a permafrost do Ártico estoque 14% do carbono nos solos do mundo. A freqüência e a extensão de incêndios na tundra do Ártico pode aumentar durante períodos tanto de alta temperatura no verão como de baixa precipitação, e eles podem estar ligados à rápida redução na cobertura de gelo em resposta a aumentos na temperatura do ar ao redor do Ártico. Um efeito de mais incêndios na tundra é o aumento da disponibilidade de nutrientes, o que pode facilitar a expansão de arbustos e aumentar ainda mais a freqüência e a severidade dos incêndios.

Até amanhã, amig@s!

Fonte: Mercado Ético

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