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domingo, 11 de dezembro de 2011

Livro reúne pesquisa sobre aves migratórias

As aves migratórias têm como característica as longas viagens que empreendem. Essa singularidade multiplica sua ameaça de sobrevivência. De país em país, ano a ano em buscas do melhor território, do melhor clima e alimento de acordo com sua natureza, essas aves costumam passar ao largo das políticas de conservação, até mesmo pelo reduzido conhecimento de suas características. Os dados disponíveis nos Estados Unidos apontam a para redução de populações, algumas vezes de forma abrupta em poucos anos.

Maçarico de papo vermelho. Fonte:Wonder

O maçarico-de-papo-vermelho (Calidris canutus rufa) é um exemplo dessa realidade fatídica. A ave de 24 centímetros de comprimento realiza uma das mais longas migrações, partindo do Ártico e indo até o Sul da América do Sul, passando pelo Brasil. Por ser limícola, isto é, por viver na lama ou no charco, realiza esse trajeto pelo litoral do continente. Antes de realizar a viagem que começa na América do Norte, cerca de 80% dos maçaricos-de-papo-vermelho fazem uma parada na Baía de Delaware, no Nordeste dos Estados Unidos, para pesca do caraguejo-ferradura.
Como ocorre a superexploração do caraguejo-ferradura, os maçaricos-de-papo-vermelho sofreram a redução da oferta dos ovos desses artrópodes, ficaram sem seu alimento para longa migração rumo ao Ártico, onde se reproduzem. De acordo com dados do WikiAves, na contagem da espécie feita na Baía Lomas, no Sul da Argentina, em 1989, 53 mil indivíduos foram contabilizados. Em 2010, a contagem caiu para 16 mil. Este ano, foram 11 mil.

Caranquejo-ferradura. Fonte:Colecionadores

Infelizmente os maçaricos-de-papo-vermelho não são um caso isolado. Dados do serviço de Pesca e Fauna dos Estados Unidos (o US Fish and Wildlife Service – USFWS) reunidos criaram a lista informações sobre os status das espécies, a Bird of Conservation Concern. As informações revelaram graves ameaças para as populações de aves migratórias. O perigo levou à criação de um fundo de apoio à pesquisa sobre essas espécies. Com esses recursos, a Conservação Internacional (CI) organizou uma publicação de fôlego acadêmico: Conservação de Aves Migratórias Neárticas no Brasil – disponível na versão eletrônica na internet e também prestes a ser impresso e distribuído a bibliotecas, cursos de pós-graduação, centro de pesquisas e instituições governamentais ligadas a área. Neártica é a região ecológica compreendida pelo México, Estados Unidos e Canadá.
A razão do fundo da lei de conservação de aves migratórias do Serviço de Pesca e Fauna dos Estados Unidos ser aplicado em pesquisa no Brasil está no papel desempenhado pelo nosso país como território de passagem, descanso e alimentação desses animais. “Mas qual seria esse papel?”, perguntou o coordenador do programa de subsídio financeiro Guy B. Foulks. A resposta a essa pergunta veio em etapas no decorrer de três anos. “Foi definida uma lista preliminar das espécies que poderiam ser classificadas como migrantes neárticas. Depois, foi estruturado um modelo básico para orientar a forma como as informações sobre cada uma das áreas deveriam ser apresentadas. Por fim, foi lançado um convite aberto para que toda a comunidade de ornitólogos brasileiros pudesse contribuir com artigos de síntese”, explica Renata Valente, bióloga e co-organizadora da publicação.

Trinta reis boreal. fonte: Shar

A publicação contém 74 trabalhos de 90 especialistas das cinco regiões do país. É uma ferramenta preliminar para a conservação de mais de 80 espécies de aves migratórias neárticas que utilizam o território brasileiro – em diferentes épocas do ano, em áreas específicas e com hábitos característicos.
Os pesquisadores tanto utilizaram pesquisas consolidadas, como aproveitaram o convite para finalizar seu material e participar da edição. “É um trabalho pioneiro por reunir e sintetizar em uma única publicação dados e informações sobre a ocorrência de aves migratórias neárticas no Brasil”, avalia Renata. O objetivo do livro, conta uma das organizadoras, foi gerar o primeiro catálogo de áreas importantes para as aves migratórias neárticas no Brasil e suprir lacunas do conhecimento sobre essas espécies no país.
Além de dados sintéticos, a publicação reúne fotos de todas espécies tratadas e infográficos com a ocorrência de cada espécie em cada uma das regiões do país. A região Norte foi privilegiada com 24 trabalhos, seguida da região Sul com 21 sínteses. A região Sudeste, embora concentre a maioria dos pesquisadores do país, participou com seis trabalhos.

Trinta Reis Boreau em pleno voo na captura da sua refeição preferida. Fonte:Discovery

A reunião dos dados em uma única publicação e sua oferta de forma aberta e eletrônica será o primeiro passo em busca da criação de políticas internacionais de conservação. A diretora da CI no Brasil Patrícia Baião explica que as aves migratórias cruzam longas distâncias e atravessam fronteiras entre países. “As estratégias de conservação para esse grupo são dificultadas pela falta de unidade entre as ações de diversos países”.
Patrícia Baião conta que as estratégias de conservação de aves migratórias são mais difíceis com a transposição de barreiras geopolíticas. “Existem iniciativas como a Convenção de Bona sobre a Conservação das Espécies Migradoras Pertencentes à Fauna Selvagem, que não é restrita a aves e o Acordo sobre Aves Aquáticas Migratórias Africano-Euroasiáticas (AEWA), ambos sob o Programa das Nações Unidas pelo Meio Ambiente (PNUMA)”.
A situação preocupante vivida por pequenas aves limícolas, como maçarico-de-papo-vermelho, também acontece com espécies maiores, como aves canoras e aves de rapina, igualmente sob graves ameaças. Logo na introdução, Guy Foulks trata de espécie, como o vira-pedras (Arenaria interpres), que é classificada como “pouco preocupante” no levantamento da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN).


Até amanhã, amig@s!

Fonte:Celso Calheiros
O Eco









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