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domingo, 24 de junho de 2012

Rio+20: Sociedade em Fragmentos

Sinto na pele o quanto a insustentabilidade pulsa em cada canto dos eventos da Rio+20. Dos geradores de energia a diesel – só o Greenpeace está produzindo sua energia – até os milhares de copinhos de isopor. Sinto-me parte desse mosaico fragmentado. Um caquinho jogado em meio a tantos tipos de resíduos diferentes, talvez como um grão de areia de uma obra do Vik Muniz, pois no geral, de longe, tudo é espetáculo.
Por cima passam helicópteros com os privilegiados que podem fugir do caos do trânsito. Na baía de Guanabara, grandes navios levam contêineres de exportações. Nas estreitas ruas, batedores produtores de silvos estridentes abrem caminho para as autoridades em carros blindados que “não podem” ficar trancados em engarrafamentos. No Rio está escancarada a falta de coesão da sociedade e dos governos. Tantos interesses e visões de mundo, onde salvar o planeta é apenas um pretexto.
Se em 92 a Cúpula dos Povos era o espaço da sociedade civil do mundo, nesta edição, o evento reúne principalmente entidades brasileiras, sedentas por recursos de instituições que podem financiar seus projetos. No Rio Centro, estão os demais estrangeiros. Enfim, para os cariocas, o Aterro do Flamengo é lugar de índio. Reclamam que o trânsito piorou com tanta programação e passeatas. Aliás, surgem vários protestos, com objetivos distintos. Cada movimento chama atenção para suas causas.
Ouvi da boca de uma fonte de alta credibilidade que para a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), expressivos representantes do movimento social, não criticam as posições do governo quanto ao rumo da política ambiental. Os movimentos da sociedade, incluindo os ambientalistas, disputam holofotes, enquanto as empresas se unem para mostrar como tem se preocupado com o ambiente.
Creio que o melhor para o planeta, para o ambiente do Rio ou de qualquer outra cidade, é não ter mais mega eventos desse tipo. Porém é importante para a humanidade, para os seres que erram e acertam. Principalmente para se conquistar mais espaço na mídia e até para se ter acesso a projetos incríveis, como o idealizado pela Bia Lessa e equipe.
Boa parte dos integrantes da sociedade civil que tem propriedade para debater e conduzir algo produtivo está envolvida com a produção. Recepcionam estrangeiros, estão ocupadíssimos na distribuição de colchonetes na hospedagem de ongueiros e índios no Sambódromo. A coordenadora da Rede de ONGs da Mata Atlântica, Ivy Wiens, me falou ontem (19) que ainda não conseguiu acompanhar qualquer programação.
Enfim, passaram-se 40 anos desde Estocolmo, 10 anos da morte de José Lutzenberger – o ministro do Meio Ambiente do governo Collor que teve uma forte influência para a realização da Conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento no Brasil -, e ainda engatinhamos no básico da eterna busca pelo equilíbrio: dialogar e entrar em comum acordo nem que seja entre os ditos verdes. Será que o ser humano tem jeito?
Até o momento, uma das coisas mais legais que me deparei até o momento foram as oficinas do Fórum de Empreendedorismo Social. Lá tive contato com pessoas que estão fazendo a diferença e são felizes, superando inúmeras dificuldades. Vou ter que escrever um post contando só como foi essa experiência maravilhosa. Por agora, fico por aqui, pois preciso me preparar para a grande marcha que deverá reunir todas as tribos no Centro do Rio.

Até amanhã,amig@s!
 
Fonte: Silvia Marcuzzo/Mercado Ético

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