Prefeitura promete combater a prática que põe em risco parte dos 300 mil espécimes catalogados na cidade.
No Bairro Barro Preto, Região Centro-Sul, próximo da esquina das ruas Aimorés e Ouro Preto, tronco de uma árvore abriga um bota-fora.
Contradição na paisagem urbana de Belo Horizonte. Enquanto o Executivo municipal torna oficial o exame periódico das árvores para combater a ação de pragas e insetos, há intervenções em ruas e avenidas que parecem decretar o lento extermínio do verde. Em bairros da Região Centro-Sul, o cimento toma conta da base das plantas, numa situação considerada “criminosa” por especialistas e “absurda” por moradores ouvidos. Na Rua dos Inconfidentes, no Funcionários, árvores frondosas são vítimas dessa prática, o que levou, na tarde de ontem, o zelador de um prédio a usar uma enxada, marreta e talhadeira para arrancar o concreto e deixar a água da chuva penetrar no solo. “É triste ver uma situação dessas na cidade”, disse Edilson Dias, de 46 anos, que trabalha num edifício há 14 anos.
Edilson Dias, zelador de um prédio na Rua dos Inconfidentes, Bairro Funcionários, alivia raízes da árvore
nove administrações regionais, de acordo com a Secretaria de Meio Ambiente. O número poderá crescer ainda mais, devendo chegar a 350 mil com a realização do Sistema de Inventário das Árvores de BH, parceria da prefeitura com a Cemig e execução da Universidade Federal de Lavras (Ufla), iniciado em outubro de 2011, previsto para terminar este ano. “Todas essas questões, como intervenções inadequadas, estão sendo acompanhadas”, disse o gerente da área de Projetos Especiais, arquiteto Júlio de Marco. Segundo ele, as ações para o combate de pragas e insetos são feitas há anos pela PBH.
A publicação na edição de ontem do Diário Oficial do Município (DOM) da Lei 10.610, que trata do combate às pragas e insetos, não estava inserida no Código de Posturas da capital, reeditado há três anos. De acordo com a Secretaria Municipal de Regulação Urbana, essa prática não estava expressa no texto. Dessa forma, houve um acréscimo – artigo 29-B – ao capítulo II do título II da Lei 8.616/03, de 14 de julho de 2003. Por ela, “no caso de árvores que estejam em risco de queda devido à ação de pragas e insetos, o Executivo obriga-se a proceder ao seu isolamento, para evitar danos materiais e a resguardar a segurança dos munícipes”. As determinações são originárias do Projeto de Lei 1.631/11, do então vereador Alberto Rodrigues (PV)
Com olhos, determinação e atitude de defensor da natureza, o zelador Edilson Dias retirou os pedaços de cimento em volta do tronco da árvore em frente ao prédio no qual trabalha, deixando as raízes expostas. “Vou manter este lugar como sempre esteve, com terra e um pouco de grama”, afirmou. Segundo Edilson, há mais de um mês uma equipe, que ele acredita ser da prefeitura, esteve no local e explicou que o espaço em torno da árvore teria que ser coberto, a fim de evitar água empoçada e proliferação do mosquito da dengue. Pouco tempo depois, no entanto, uma nova equipe passou pela rua e avisou que o cimento teria que ser retirado, por estar prejudicando o meio ambiente. “Ficamos sem entender nada, pois não fomos nós, do prédio, que cobrimos as raízes com o material. Desse jeito, o melhor é tirar isso logo”, disse o zelador. A foto da árvore sufocada foi publicada na edição de ontem do EM, e causou revolta nas redes sociais.
Na Rua Inconfidentes, a advogada Izabela Guimarães apoiou a decisão do zelador, e Cláudia Ruela, moradora de um prédio, considerou “absurdo” cimentar as raízes. A Regional Centro-Sul informou que a prefeitura não foi responsável por esse serviço e que a ordem é manter “o quadrado ecológico” no entorno da base do tronco. A questão será avaliada por técnicos da Gerência de Fiscalização Integrada, que visitarão o local para tomar as medidas cabíveis.
Em outras regiões da cidade impera também o desrespeito. Na esquina das ruas Ouro Preto e Aimorés, no Bairro Barro Preto, na Centro-Sul, há uma árvore na mesma situação. Além disso, a base do tronco dela é usada como banheiro. “É horrível passar aqui e ver sujeira e o cimento cobrindo as raízes”, disse a auxiliar jurídica de uma construtora Renata Alves. Perto dali, uma árvores convive com entulho e lixo.
Cimentar a base de uma árvore é uma atitude criminosa, segundo o professor de Departamento de Botânica da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) João Renato Stehmann. “É preciso deixar uma área permeável ao redor do tronco, para não impedir que a água da chuva entre no solo. O recomendável é deixar um pequeno quadrado, seguindo as técnicas de plantio. Não agir assim é deplorável”, afirmou o professor.
Até amanhã, amig@s!
Fonte:Estado de Minas